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Candidatos pró-democracia à frente em eleições para conselhos distritais em Hong Kong

Resultados parciais das eleições locais de hoje em Hong Kong mostram que os candidatos pró-democracia contam já com mais de um terço dos 452 assentos nos 18 conselhos distritais da região administrativa especial chinesa.

As eleições, vistas como um teste ao apoio popular aos protestos anti-governamentais que abalam o território chinês há quase seis meses, foram marcadas por uma forte afluência às urnas.

Entre os vencedores da votação deste domingo constam antigos líderes estudantis e um candidato que substituiu o proeminente ativista Joshua Wong, a única pessoa impedida de concorrer à eleição. Um conhecido organizador dos protestos, Jimmy Sham, espancado no mês passado por assaltantes desconhecidos, também triunfou, assim como um deputado pró-democracia.

Até agora, os candidatos pró-democracia já ganharam 159 dos 452 assentos disponíveis nos 18 conselhos distritais.

O maior partido político pró-Pequim de Hong Kong sofreu, até agora, o maior revés, com mais de 100 dos seus 182 candidatos a serem derrotados. Entre os perdedores constam o deputado controverso Junius Ho, esfaqueado este mês durante a campanha.

A Comissão dos Assuntos Eleitorais informou que 71 por cento dos 4,1 milhões de eleitores recenseados na região administrativa especial votaram, superando em muito a participação de 47 por cento verificada nas mesmas eleições há quatro anos.

A participação normalmente baixa nas eleições para os conselhos distritais, tradicionalmente controlados por partidos pró-Pequim, ganhou uma nova importância no contexto dos protestos. Um resultado forte da oposição será lido como um apoio público aos manifestantes, ainda que o recurso à violência tenha vindo a aumentar.

“Simbolicamente, a mensagem é clara: Se os pan-democratas vencerem, isso será equivalente a uma rejeição da política da linha dura de Pequim e do governo de Hong Kong”, afirmou Dixon Sing, professor de Ciência Política na Universidade de Ciência e Tecnologia de Hong Kong, em declarações à agência Associated Press.

A participação eleitoral recorde mostrou “uma grande onda em Hong Kong que acredita na democracia”, disse, pelo seu lado, David Alton, membro da Câmara dos Lordes Britânica, que está entre os observadores eleitorais internacionais convidados pelos grupos da sociedade civil de Hong Kong.

Durante os protestos nos últimos seis meses, os manifestantes vandalizaram montras de empresas vistas como simpatizantes da China, incendiaram portagens, fecharam um grande túnel na cidade e envolveram-se em batalhas com a polícia, enfrentando granadas de gás lacrimogéneo e canhões de água com cocktails molotov. Mais de 5.000 pessoas foram presas.

As manifestações tiveram início em junho, na sequência de uma controversa proposta de alterações à lei de extradição – já retirada pelo Governo local – mas transformaram-se num movimento que exige a melhoria dos mecanismos democráticos e que se opõe à crescente interferência de Pequim.

Cerca de quatro milhões de eleitores, mais de metade da população, foram chamados a votar num escrutínio que geralmente passa despercebido, mas que este ano ganhou renovada importância no contexto do movimento pró-democracia.

Nas últimas eleições, em 2015, o campo pró-Pequim obteve quase dois terços dos assentos nos conselhos distritais.

Hong Kong está aparentemente dividida entre aqueles que apoiam os manifestantes pró-democracia e os apoiantes da polícia que tendem a apoiar os políticos pró-Pequim.

As semanas que antecederam as eleições de hoje domingo foram marcadas por episódios violentos, que levantaram dúvidas sobre se o escrutínio iria ou não avançar, sobretudo após o cerco policial à Universidade Politécnica.

A votação decorreu de forma pacífica sob a vigilância de um forte dispositivo policial. Quase ninguém usou roupas pretas ou máscaras faciais, uma marca dos manifestantes, que as redes sociais desaconselharam nos últimos dias.

Estas eleições são as únicas totalmente democráticas em Hong Kong. Os membros do Conselho Legislativo, o parlamento local, são escolhidos em parte pelo voto popular e em parte por grupos de interesses que representam diferentes setores da sociedade, e o chefe do executivo da região administrativa especial é escolhido por um colégio eleitoral de 1.200 membros, dominado por Pequim.

Após ter recuperado a soberania do território das mãos britânicas em 1997, sob a fórmula “um país, dois sistemas”, o Governo chinês comprometeu-se a manter a autonomia de Hong Kong e a respeitar até 2047 uma série de liberdades de que os cidadãos da China continental não gozam.

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