Economia

Canábis: Uruguai vai ‘adubar’ produção com fezes de morcego

cannabis O Uruguai quer aproveitar as fezes de morcego no cultivo da canábis. Ricos em fósforo e nitrogénio, os excrementos podem ajudar a acelerar a floração das plantas.

No Uruguai, o primeiro país a legalizar a produção e venda de canábis, os produtores estão a olhar com mais atenção para os morcegos, depois de um grupo de cientistas ter revelado um estudo sobre as potencialidades dos excrementos destes animais.

As fezes dos morcegos são ricas em fósforo e nitrogénio, duas substâncias que podem acelerar a floração das plantas. As propriedades eram já conhecidas dos agricultores, mas agora os cientistas estudarem o ‘cocó de morcego’ como um adubo orgânico.

“Não tem nada a ver com a canábis, é um fertilizante”, assegurou o zoólogo Enrique González, coordenador do Programa de Pesquisa de Morcegos do Uruguai, citado pela EFE.

O investigador, que lidera uma equipa que tem vindo a analisar a matéria fecal destes mamíferos (conhecida como guano), admitiu que este adubo deve ter “alguma particularidade” para ter chamado a atenção dos produtores de canábis.

O interesse tornou-se mediático num país que, em dezembro do ano passado, aprovou o Projeto de Lei sobre Controle e Regulação de Canábis e Derivados, possibilitando a qualquer cidadão, desde que se registe como produtor, a produção e comercialização da substância.

Ao nível do consumo, quem estiver registado pode cultivar, livre e legalmente, até seis plantas de ‘cannabis sativa’ e colher até 480 gramas de canábis por ano.

“No início da pesquisa, pusemos na internet ‘guano de morcego’ e apareceram 25 páginas, das quais 22 eram de clubes de plantadores de canábis no mundo todo”, salientou Enrique González.

As vantagens foram explicadas, à EFE, pelo gerente de uma ‘growshop’, uma loja que vende artigos de ‘jardinagem’ específicos para os produtos de canábis.

“Comparado com outros adubos, [o guano] devolve a matéria orgânica à planta e a absorção de nutrientes é feita mais lentamente, por isso que não é preciso adubar todo dia. Estamos interessados em vender um adubo produzido no Uruguai porque o que se encontra no mercado são produtos importados e caros”, afirmou Nacho Merlín.

Enrique González registou um problema adicional: é que, para além de ainda haver quem torça o nariz à produção de canábis, os próprios morcegos fazem parte de uma espécie “demonizada”.

Os ativistas pelos direitos dos animais concentram as atenções em animais ‘fofos’, como aves e baleias, e não sofrem “o terrível problema que enfrentamos, porque nosso animal é demonizado injustamente”, complementou o zoólogo.

“No Uruguai vivem 23 variedades de morcegos, tanto em cidades como em zonas rurais”, salientou Nacho Merlíz, que defende a aplicação de diretrizes para a futura comercialização do adubo.

“Se um clube de canábis vai procurar guano numa colónia não vai voltar um ano mais tarde para ver se foi afetada pela extração, só voltará quando o guano acabar para comprar mais”, antecipou.

Outra medida sugerida é a permissão da colheita apenas fora do período reprodutivo (entre dezembro e fevereiro) e apenas nos dias frios, para que os morcegos estejam letárgicos.

Já Juan Pablo Turbino, responsável de outra ‘growshop’, alertou para outro problema: a conservação das fezes.

O guano, ao ser armazenado em espaços húmidos e fechados, pode fazer aumentar a libertação dos esporos de um fungo que causa problemas respiratórios. 

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