Mundo

Cabo Verde com bons indicadores no combate ao VIH mas ainda luta contra intolerância

Cabo Verde regista cerca de 300 novos casos de VIH/Sida por ano, com 78 por cento dos infetados a terem acesso ao tratamento, mas o grande desafio continua a ser contra a intolerância para com os doentes, segundo uma responsável da área.

No dia em que se assinala o Dia Mundial da Sida, a secretária-executiva do Comité de Coordenação e Combate ao VIH/SIDA (CCS-SIDA), Maria Celina Ferreira, lamentou hoje que a tolerância para quem tem o Vírus da Imunodeficiência Humana (VIH) ainda seja “baixa”, rondando os 31 por cento.

“Temos de reforçar a componente dos direitos humanos”, afirmou Maria Celina Ferreira durante uma cerimónia que decorreu na Assembleia Nacional, na cidade da Praia, onde enalteceu algumas das conquistas contra a doença registadas em Cabo Verde.

A responsável afirmou que atualmente 78 por cento das pessoas que precisam têm acesso ao tratamento, quando o objetivo traçado é de atingir os 90 por cento.

Ainda assim, lamentou que “nem todos os doentes em tratamento estejam com carga viral indetetada”.

Sobre o conhecimento da doença, este é “bom”, tal como a percentagem de pessoas que usaram preservativo na última relação de alto risco: 84,2 por cento dos homens e 79,8 por cento das mulheres, com idades entre os 15 e os 19 anos, e 73,1 por cento dos homens e 58,8 por cento das mulheres, na faixa etária entre os 20 e os 24 anos.

Em relação à transmissão vertical (de mãe para filho) Maria Celina Ferreira congratulou-se com o facto de 97 por cento dos filhos de mães seropositivas para o VIH nascerem livres do vírus.

A responsável considera ser ainda necessário “estancar a transmissão do VIH no seio das populações-alvo, como os utilizadores de drogas, os trabalhadores do sexo, os homens que têm sexo com outros homens e as pessoas com deficiência.

“Pretendemos também ir às prisões e aos barcos, de forma a aumentar o acesso dos homens aos testes e temos de avaliar a possibilidade de se recorrer ao auto teste”, acrescentou.

Ailton Lima, vice-presidente da Rede Nacional de Pessoas Positivas, levou ao palanque a voz dos que vivem com a doença, como ele, infetado há 15 anos.

“Os dados são bons. Estamos confortáveis, mas precisamos de acelerar respostas”, disse, defendendo uma maior participação nestas soluções de pessoas que têm a doença e que, por isso, sabem do que falam.

“Existem muitas ilhas onde ainda é preciso fazer um trabalho com quem vive com o VIH”, disse, acrescentando que estas não estão apenas nas cidades da Praia (ilha de Santiago) e no Mindelo (ilha de São Vicente), mas nos meios rurais.

Ailton Lima deixou um especial apelo em relação aos portadores de doenças mentais que “têm sido muito esquecidos”.

“São ativos sexualmente e não sabem o que significa o VIH e muito menos o que é a prevenção ou para que serve o preservativo”, referiu.

O ativista pelos direitos dos seropositivos disse conhecer alguns portadores de doença mental que têm o VIH e que podem estar a transmiti-lo, mesmo sem saber.

Ailton Lima apelou ainda a que todos façam o teste para despistar o VIH, independentemente de pertencer ou não a um grupo de risco.

Presente na cerimónia, o ministro da Saúde e Segurança Social, Arlindo do Rosário, afirmou, a propósito do tema das celebrações deste Dia Mundial da SIDA – “Conheça o seu estado serológico” -, que “a única forma de determinar o estado serológico de uma pessoa para o VIH é fazendo o teste”.

“O teste do VIH é essencial para alargar o tratamento e assegurar que todas as pessoas que vivem com o VIH possam levar uma vida saudável e produtiva. É também crucial para assegurar que 90 por cento das pessoas que vivem com o VIH conheçam o seu estado serológico e que 90 por cento das pessoas que estão a fazer tratamento alcançam a supressão da carga viral”, disse.

Para o ministro, a infeção pelo VIH continua a ser “um importante problema de saúde pública”.

“A persistência de comportamentos de alto risco nos jovens, o insuficiente apoio psicossocial aos infetados e afetados pelo VIH-Sida, constrangimentos de vária ordem, nomeadamente financeiros para a prevenção, o tratamento e o seguimento clínico, biológico e psicossocial, o estigma e a discriminação não foram ainda completamente eliminados”, disse.

Arlindo do Rosário exortou para que as metas a atingir no combate ao VIH sejam “territorializadas, por cada município e por cada região”.

“O nosso processo de implementação e de avaliação de metas tem que ser subsidiado pelas ações locais, municipais. Isso tem ainda a vantagem de promovermos a equidade na saúde”, referiu.

Em destaque

Subir