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Brexit: Londres considera lamentável comentário de Tusk sobre “lugar no inferno”

A ministra britânica Andrea Leadsom classificou como “extremamente lamentável” o comentário do presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, que hoje sugeriu que os defensores do Brexit terão um “lugar no inferno”.

“O homem não tem maneiras. É extremamente lamentável, não ajuda de todo”, lamentou a ministra para os Assuntos Parlamentares, defensora do Brexit num programa da estação pública de televisão BBC, a propósito das declarações de Donald Tusk.

Numa conferência de imprensa hoje em Bruxelas em que participou também o primeiro-ministro irlandês, Leo Varadkar, Donald Tusk disse: “Tenho-me questionado como será o lugar especial no inferno reservado àqueles que promoveram o Brexit sem terem sequer um esboço de um plano para realizá-lo em segurança”.

Citado pelo The Guardian, um porta-voz da primeira-ministra, Theresa May, disse que cabe ao presidente do Conselho Europeu dizer se “considera útil o uso desse tipo de linguagem”.

Para o líder parlamentar do Partido Democrata Unionista (DUP), Sammy Wilson, Tusk é um “euromaníaco diabólico” que “mostrou mais uma vez desprezo pelas 17,4 milhões de pessoas que votaram para fugir à corrupção da UE e procurar o paraíso de um Reino livre e próspero”.

Através da rede social Twitter, Wilson acusa o antigo primeiro-ministro polaco de querer reverter o resultado do referendo de 2016 e promete que a resistência dos defensores do Brexit será ainda maior perante “Tusk e o seu bando de manejadores de tridentes”.

Numa intervenção na Câmara dos Comuns, o deputado conservador Peter Bone, destacado eurocético, considerou as declarações um “insulto ultrajante” e pediu ao Governo que responda, vincando: “Não me lembro de qualquer presidente que tenha insultado membros desta Câmara, membros do governo e o povo britânico desta maneira”.

Em defesa de Tusk falou a líder do Sinn Féin, o rival do DUP na Irlanda do Norte, que relativizou o tom do presidente do Conselho Europeia tendo em conta as posições, por exemplo, do antigo ministro dos Negócios Estrangeiros Boris Johnson ou do eurocético Jacob Rees-Mogg.

“São pessoas que agiram com absoluto desprezo por este país, total desrespeito pelas experiências do povo irlandês do norte e do sul, com total desrespeito pelo processo de paz que foi construído coletivamente ao longo de décadas”, disse Mary Lou McDonald após um encontro com Theresa May em Belfast.

A primeira-ministra encontra-se na Irlanda do Norte, numa visita de dois dias, para encontros com políticos e empresários, tendo na terça-feira feito um discurso em que renovou o compromisso de proteger o processo de paz no território britânico.

Theresa May volta a Bruxelas na quinta-feira, onde se vai encontrar com Donald Tusk, com o presidente da Comissão Europeia, Jean-Claud Juncker, e com o presidente do Parlamento Europeu, Antonio Tajani.

A chefe do governo tem como missão negociar com a UE uma alternativa à solução de salvaguarda, conhecida como ‘backstop’, para evitar uma fronteira com controlos na Irlanda do Norte com a vizinha Irlanda.

A fronteira aberta para a livre circulação de pessoas, bens e serviços é um compromisso assumido nos acordos de paz para o território assinados em 1998 pelos governos britânico e irlandês, no âmbito da União Europeia.

A solução prevista no Acordo de Saída negociado entre o Governo e Bruxelas será ativada se não estiver concluído um novo acordo comercial após o período de transição, no final de 2020, mantendo o Reino Unido na união aduaneira europeia e a Irlanda do Norte sujeita a certas regras do mercado único.

Conservadores eurocéticos e o Partido Democrata Unionista opõem-se, alegando que existe o risco de ficar em vigor por tempo indeterminado e de forçar a Irlanda do Norte a cumprir um quadro regulatório diferente do resto do país.

Esta posição contribuiu para a rejeição em 15 de janeiro por uma margem de 230 votos do acordo negociado por Theresa May com Bruxelas e a aprovação por uma margem de 16 votos de uma proposta que defende a renegociação do tratado para substituir aquele mecanismo por uma alternativa.

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