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Brasileiros na Alemanha viajam várias horas para poder votar

Cerca de 25.500 brasileiros estão registados para votar em toda a Alemanha nas eleições de hoje. Muitos viajam várias horas para poder escolher o próximo Presidente da República.

Vilani Risch acordou mais cedo este domingo. Saiu de casa pouco passava das 7 da manhã. Veio de Dresden (a cerca de 200 quilómetros de Berlim) para poder votar na escolha do próximo Presidente do Brasil.

“Senti-me no dever de vir votar desta vez, mais do que nas outras, porque a situação do país não é boa e quero cooperar para que mude. Só em casa não se muda nada, é preciso agir”, sublinha esta brasileira a viver há mais de uma década na Alemanha.

“Estou muito preocupada. Os dois candidatos que estão à frente (Jair Bolsonaro e Fernando Haddad), e que não são uma boa opção, fazem com que o ódio esteja a alastrar, e isso é assustador, porque o ódio só gera ódio”, realça Vilani Risch.

Para estas eleições, houve um reforço dos locais de votação na Alemanha. Além de Berlim e Frankfurt, é possível votar em Munique, Hamburgo e Colónia. De acordo com a Embaixada do Brasil em Berlim, são cerca de 25500 os eleitores brasileiros registados.

Simone Fultran está preocupada com o futuro do Brasil e acredita que “pode acontecer de tudo, até uma guerra civil”.

“É muito importante votar porque o país está a atravessar um momento muito complicado. Há vários problemas, mas estão todos ligados à política. Desde o ‘impeachment’ da Dilma, o Brasil está num clima de revolta muito grande. Havia 22 pré-candidatos, o que é um absurdo, depois ficaram 13, o que também é muito. Não tenho uma bola de cristal, mas, como são tantos candidatos, acredito que vai mesmo haver um segundo turno”, acredita esta brasileira que reside há vinte anos na Alemanha.

Para Simone Fultran “não é possível comparar a situação que o Brasil tem agora, com o nazismo da Alemanha no século passado.”

Já Vilani Risch acredita que se deve aprender dos erros do passado, realçando que “muitas pessoas no Brasil não sabem o que é viver no fascismo”. Com vários familiares alemães, esta brasileira garante que “aqui todos sabem o que pode acontecer com um regime xenófobo e racista”.

Lisangela de Castro Silva também defende “uma mudança partidária no Brasil”.

“A situação está muito complicada, estamos todos perdidos diante de tanta violência, precariedade na área da saúde, precariedade na área da educação, … O partido que está hoje no poder não está a ajudar o suficiente, fora os escândalos, por isso neste momento temos que pensar no país. Viajámos três horas para fazer a nossa parte”, enfatiza esta brasileira a morar em Dresden, na zola leste da Alemanha.

No mesmo grupo veio Júlio de Melo, que não pensou duas vezes antes de fazer a viagem.

“Estou preocupado com o futuro do Brasil porque a minha família e amigos moram lá. Estou muito assustado, se analisarmos o nível de rejeição desses dois candidatos que têm mais votos, os dois têm um maior nível de rejeição que de aceitação. Isto é, se um dos dois vencer, vão sempre existir mais pessoas insatisfeitas do que satisfeitas. Isso pode gerar muitas manifestações populares, o que pode ser perigoso”, destaca este brasileiro.

Simone Fultran conta que “chegou a haver discussão” antes da viagem entre Dresden e Berlim, e explica porquê: “Houve quem não quisesse vir com determinada pessoa porque o voto ia ser diferente. Então nós tivemos de fazer um acordo e não falar disso. Cada um vota no seu candidato e vamos ver o que acontece”.

As urnas na Alemanha abriram às 8 da manhã (7 da manhã em Lisboa) e fecham às 5 da tarde.

De acordo com a Embaixada do Brasil em Berlim, são cerca de 104 mil os brasileiros residentes na Alemanha em qualquer situação migratória.

Os eleitores registados para votar no exterior votam apenas no Presidente da República.

Se nenhum candidato superar 50 por cento dos votos válidos haverá uma segunda volta nas presidenciais do país que está marcada para acontecer no dia 28 de outubro.

Jair Bolsonaro, do Partido Social Liberal (PSL), lidera as presidenciais com 35 por cento das intenções de voto, 13 pontos percentuais frente do seu rival imediato, o candidato do Partido dos Trabalhadores (PT) Fernando Haddad, que tem 22 por cento da preferência dos eleitores.

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