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Brasil celebra trinta anos de parceria espacial com a China e ambiciona projeto com Portugal

O Brasil e China celebram este ano três décadas de cooperação bilateral na área de satélites e o diretor da Agência Espacial Brasileira, José Raimundo Coelho, afirmou ter também em vista projetos futuros com Portugal.

“O nosso relacionamento com Portugal, na área espacial, sempre foi muito pretendido. Portugal, há cerca de três anos, começou a pensar seriamente em desenvolver um programa espacial, envolvendo a Europa, mas procurou-nos (ao Brasil) também. Nós achamos esse projeto muito bom, uma oportunidade de retribuir o facto dos portugueses terem descoberto o nosso país”, afirmou José Raimundo Coelho, em entrevista à agência Lusa.

O diretor da Agência Espacial Brasileira (AEB) adiantou que essa oportunidade de parceria com Portugal já deu os primeiros passos, com a criação de um centro de desenvolvimento na área espacial nos Açores. José Raimundo Coelho disse ainda que, no momento, Portugal encontra-se a “atender uma chamada pública” que a a Agência Espacial Europeia lançou, e espera que o Brasil possa ajudar nesse projeto.

“Essa seria uma forma de começarmos um projeto espacial com Portugal. Se não acontecer dessa maneira, o Brasil vai batalhar para que aconteça de outra forma”, afirmou o diretor da AEB, que confienciou à Lusa ter descendência portuguesa.

No entanto, se as relações entre o Brasil e Portugal, na área espacial, ainda estão a começar, com a China a ligação já está bem consolidada, celebrando 30 anos de colaboração.

A parceria, conhecida como Programa Cbers (sigla em inglês para Programa Sino-Brasileiro de Recursos Terrestres), permitiu a produção de cinco satélites sino-brasileiros [pertencentes à China e ao Brasil] de recursos terrestres.

O sexto equipamento de sensoriamento remoto, o Cbers-4A, tem o seu lançamento previsto para o próximo ano, na cidade de Taiyuan, no país asiático.

Coordenado pela Agência Espacial Brasileira e pela Administração Nacional Espacial da China, o programa permitiu o desenvolvimento de um sistema completo de sensoriamento remoto (espacial e terrestre) para fornecimento de imagens gratuitas a ambos os países e a mais de 20 nações da América do Sul, do sul da África e do sudeste asiático.

Para José Raimundo Coelho, esta parceria duradoura não podia ter melhores frutos: “Os resultados são excecionais. Os brasileiros e os chineses já conversavam sobre a possibilidade de colaboração desde o ano de 1984, só que num outro segmento da área espacial”, disse.

No ínicio, “os chineses já estavam um pouco avançados em relação ao Brasil, mas não muito, e isso foi ótimo, porque se estivessem muito avançados, essa união de esforços e competências não daria os resultados que acabou por dar”, afirmou o diretor da AEB.

Ao longos das últimas três décadas, foram lançados com sucesso o Cbers-1 (1999), Cbers-2 (2003) e Cbers-2B (2007). O Cbers-3 teve uma falha ocorrida no lançamento em dezembro de 2013. O Cbers-4 foi lançado em dezembro de 2014 e continua em operação.

O sexto satélite está em fase de testes e é desenvolvido em conjunto pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais e pela Academia Chinesa de Tecnologia Espacial.

Um dos pontos mais importantes do programa Cbers é a distribuição das imagens geradas pelos satélites, cobrindo as áreas ambientais e agrícolas. A distribuição das imagens é gratuita e, atualmente, mais de 20 mil instituições brasileiras já receberam o material.

O Cbers-4A irá garantir a continuidade do fornecimento de imagens para monitorizar o meio ambiente através da verificação de desmatamentos e de desastres naturais, da expansão da agricultura e das cidades. O custo deste equipamento é de cerca de 120 milhões de reais (cerca de 27 milhões de euros) para cada país.

No entanto, o diretor da AEB garante que o uso destas imagens é transversal a qualquer área.

“Todas as pessoas do mundo podem precisar de usar (estas imagens). Por exemplo, se precisar de melhorar alguma infraestrutura, o governo (brasileiro) exige que se apresente imagens de satélite. Para se fazer uma escritura de um terreno, eles pedem imagens de satélite”, garantiu José Raimundo Coelho, assegurando que a distribuição dessas imagens é totalmente gratuita.

Estando o Brasil a atravessar um atípico período eleitoral, o diretor da Agência Espacial Brasileira assumiu que espera que o novo Presidente da República brasileiro apoie o desenvolvimento espacial no país.

“Essa é uma esperança constante nossa, de que todos os governos apoiem e reconheçam a importância que essa área tem para o país. Isso não quer dizer que esse apoio já tenha ocorrido no nível que devia. Nós temos muitas queixas a esse nível”, explicou.

“Tentamos usar exemplos de países que dão a devida importância à área espacial para sensibilizar o nosso governo. Às vezes conseguimos, outras vezes não”, lamentou.

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