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BIOS – As Urnas Ecológicas que vão mudar Portugal

Como disse um dia o jornalista Samuel Johnson “só há duas coisas certas na vida: a morte e os impostos”. E por muito interessante, e necessário, que seja que falemos de impostos a verdade é que ainda nem sequer temos Governo. Logo é melhor adiarmos o tema para daqui a uns meses (sim, porque isto parece estar demorado…). Sendo assim o nosso tema desta semana é a morte. Mas calma, não façam já essa cara, porque abordarei o tema de uma forma completamente diferente do que estão à espera. O meu foco vai para as alternativas, que a modernidade nos trouxe, para que até na hora de deixar este mundo possamos ser amigos do ambiente. Já ouviu falar de urnas ecológicas? Não? E de cemitérios que são autênticos jardins?

Também não? Então tem mesmo de ler esta crónica!

Há temas que não só não pensamos todos os dias, mas que evitamos a todo o custo. Claro que esses temas variam de pessoa para pessoa, mas penso que todos tendemos a evitar a morte (nem que seja inconscientemente). É um tema pesado, triste, que nos deixa abalados e que faz com que a nossa mente viaje para locais pouco aconselháveis. Mas é um tema ao qual não podemos fugir.

“Mas afinal o que é que há para falar sobre a morte?”. Caro leitor, olhe que existem muitos mais aspectos passíveis de debate do que pensa, acredite! Por exemplo: já parou para pensar na quantidade de espaço que é necessário para criar cemitérios suficientemente grandes para todas as pessoas que falecem, diariamente, por esse mundo fora? Pois. E já pensou na quantidade de árvores que são abatidas todos os dias para darem lugar a caixões? Pois. E relativamente a este último tópico: fará sentido abater tantas árvores para criar algo que apenas vemos durante umas horas, que é caríssimo e que vai contaminar os solos numa extensão de vários quilómetros? Com três simples, e lógicas, questões provei o quão importante é pelo menos debatermos estes temas.

Mas existem mais questões que deveriam de povoar a nossa mente. Os cemitérios são espaços pesados, frios, impessoais. É difícil para qualquer pessoa permanecer num cemitério mais do que alguns minutos, por exemplo. Ah e já para não falar no facto de ser praticamente impossível levar uma criança a um cemitério sem a traumatizar para sempre. Claro que os cemitérios são espaços difíceis de “remodelar” (afinal de contas parece que não há muito que se possa fazer para os tornar mais “amigáveis”). Mas e se eu lhe disser que podemos tornar os antigos, e antiquados, cemitérios em agradáveis, e modernos, jardins? Parece de loucos?

Talvez pareça, na teoria, mas acredite que na prática é uma solução perfeitamente viável. Recentemente tomei conhecimento de alternativas ecológicas que me fizeram repensar uma série de factos que dava por adquiridos. Na minha mente, como na de muita gente, quando alguém morre só existe uma de duas opções: ou é enterrada ou é cremada. Contudo, através de um novo produto que está no mercado há muito pouco tempo, percebi que existem outras hipóteses. Falo, como já devem ter percebido, de urnas ecológicas.

Martín Azúa e Gerard Moliné, dois designers espanhóis, criaram a urna BIOS. No fundo é uma urna biodegradável, em forma de cone, que contém cinzas humanas (ou animais) e que, quando enterrada, dá origem ao nascimento de uma árvore. Sim, dá mesmo origem a uma árvore!

A lógica é muito simples: a urna contém uma semente de planta (que pode ser escolhida pelo próprio cliente entre as variedades de carvalho, freixo, pinheiro, acer, faia e ginko) que, poucos dias depois de enterrada, começa a alimentar-se das cinzas colocadas acima, dando assim origem à referida árvore (admito que isto é um pouco mórbido, mas vai permitir-nos dizer que aquela árvore é a representação física do nosso ente querido ou do nosso animal de estimação, e isso não tem preço).

A urna é fabricada com materiais biodegradáveis (nomeadamente casca de coco, turfa compactada e celulose) e, como já devem ter deduzido, não contamina os solos. A urna acaba por se desintegrar e a árvore crescerá e servirá, para sempre, de memória do nosso familiar ou amigo.

Mas existe uma outra solução. Dá pelo nome de Restbox e é um produto ainda mais simples de entender: é um caixão, mas do mesmo material referido acima. Ou seja, não vai nascer nenhuma árvore, é um facto. Contudo ao evitarmos que uma árvore seja abatida, e ao não contaminarmos os solos, estamos a ajudar o meio ambiente.

É que se não sabiam ficam a saber que para fazer um caixão é necessário abater uma árvore enquanto que estas alternativas abatem uma árvore para fazer cem urnas/caixões (sim, cem urnas/caixões abatendo uma só árvore!).

Agora contem as pessoas que falecem todos os dias por este mundo fora e digam-me se é, ou não é, um ultraje o que estamos a fazer ao meio ambiente! Sim, os nossos entes queridos e amigos merecem uma despedida honrada e o eterno descanso. Mas para isso acontecer será mesmo necessário abater tantas árvores? Estas soluções ecológicas vêm provar que é possível manter a honra dos que partem ajudando ao mesmo tempo o meio ambiente.

E calma, porque ainda nem falámos de uma parte importantíssima desta questão: o preço. Quem já teve a infelicidade de perder um familiar/amigo sabe o quão caro é tratar de tudo o que é necessário. Ironicamente falecer nos dias de hoje está mesmo pelas horas da morte!

Entre o trabalho da agência funerária, o caixão, o coveiro, as licenças e todas as restantes despesas estamos a falar de vários milhares de euros. E escusado será dizer que nem toda a gente tem capacidade financeira para realizar o funeral que desejaria, obviamente.

Portanto, recapitulando, as vantagens são incontáveis. Por um lado estamos a falar de um serviço muito mais barato e igualmente respeitador dos nossos entes queridos. Por outro é um serviço amigo do ambiente que consegue não só evitar a contaminação dos solos, como ainda permite o nascimento de uma árvore que irá simbolizar a pessoa/animal que tanto amávamos (sendo que essa árvore até poderá ser plantada no nosso quintal, por exemplo, o que não deixa de ser uma vantagem de valor incalculável!). O pesado, frio e impessoal ambiente dos cemitérios seria rapidamente transformado em leves e agradáveis jardins que poderiam ser frequentados por crianças e que se enquadrariam muito melhor nas aldeias, vilas e cidades deste país e, certamente, um pouco por todo o mundo. E, finalmente, tornar-se-ia muito mais simples explicar a morte às crianças e fazê-las compreender que embora a pessoa/o animal tenha partido, ele estará sempre no nosso coração e na nossa memória.

Eu sei que este é um tema sensível e delicado. E é perfeitamente normal que muitos dos leitores não estejam de acordo com estas alternativas ecológicas. Mas aposto que por cada dois leitores que estão em desacordo com estes produtos existe pelo menos um que os achou uma excelente ideia. E metade desses leitores aderirem a estas soluções amigas do ambiente no final do ano teremos poupado a vida a dezenas (quem sabe centenas ou até milhares) de árvores.

Obviamente que eu tenho a noção do quão radical é a mudança que estou a defender.

Praticamos os actuais hábitos, e rituais, há centenas ou milhares de anos, logo nada mudará do dia para a noite. Mas precisamente por isso é essencial irmos divulgando estas alternativas e explicando o quão benéficas elas são para todos nós.

E sim, também tenho a noção do quão forte é o lobby das funerárias. Basicamente é um mercado no qual o consumidor praticamente não tem alternativas. Por mais que procure não poderá fugir aos mesmos produtos e aos seus preços astronómicos. Mas o tempo do monopólio acabou: é necessário informar as pessoas das restantes empresas, e serviços, existentes!

Muitas serão as dificuldades, e os entraves, que estas alternativas encontrarão no mercado português (e, por extensão, no mercado global). Contudo acho que é seguro afirmar que estas soluções vieram para ficar e que é apenas uma questão de tempo até a maioria da população perceber o seu potencial!

Termino esta crónica com duas notas. A primeira serve para mencionar a empresa que comercializa a Restbox e a BIOS: chama-se Sigma Pack e é uma empresa portuguesa. Poderá encontrar mais informações sobre a mesma em http://www.sigmapack.pt ou em https://www.facebook.com/sigmapack.pt. A segunda nota serve para explicar que não existe qualquer relação entre a referida empresa e a minha pessoa. Esta crónica foi escrita apenas, e só, porque este é um tema que me interessa e preocupa e porque considero importante ajudarmos o meio ambiente. O nome da empresa que comercializa em Portugal estes dois produtos teria de ser referido, uma vez que não faria sentido não prestar essa informação aos leitores. Escusado será dizer que não tenho qualquer problema com as agências funerárias.

Estas duas notas foram escritas para evitar qualquer mal-entendido ou interpretação errada das minhas palavras.

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