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Autor do relatório de Pedrógão fala em “censura”

Xavier Viegas, que comandou o estudo ao que terá acontecido no incêndio de Pedrógão Grande, lamenta aquilo que chama de “censura” no relatório por causa do tão falado capítulo 6 que não refere o nome das vítimas e as circunstâncias em que morreram. O coordenador do estudo lamenta que depois da morte, se pretenda agora “tirar-lhes também o rosto e o nome, tornando-os meros números de uma estatística”.

“É penoso ver que o trabalho de uma equipa de investigação com provas dadas seja censurado pela Comissão Nacional de Protecção de Dados (CNPD)”, revela Xavier Viegas num longo artigo de opinião publicado, nesta terça-feira, na edição do jornal Público.

O investigador explica que foram entregues várias versões ao Governo com alterações pedidas no que respeita ao capítulo 6.

“Foi-nos pedido que preparássemos uma versão deste capítulo 6, em que se omitissem os nomes de todas as pessoas envolvidas. Assim o fizemos, entregando ao Governo, no dia 19, uma nova versão C, que foi tornada anónima, em que todos os nomes foram substituídos por letras e números, tornando o texto impessoal e de difícil leitura, mas ainda assim compreensível.”

Sobre o capítulo 6, Xavier Viegas revela que “é justamente o mais extenso do relatório”.

“Sem desmerecer dos restantes, é aquele que, em nossa opinião, contem os elementos mais delicados desta ocorrência, por se referirem ao seu efeito nas pessoas e que justificam, em boa parte, o enorme impacto que teve, tanto a nível nacional como internacional”.

Xavier Viegas, nas páginas do Público, diz que a equipa que coordenou procurou fazer um relatório com “rigor” e que sirva para se aprender a evitar este tipo de situações.

“Não nos moveu qualquer intenção de voyeurismo, de expor publicamente as pessoas ou os seus familiares, mas sim a de apresentar, com o rigor que nos foi possível ter, os factos apurados, para ficarem documentados historicamente, para servirem de ensinamento para outros — incluindo o público em geral — e para que deles se retirassem as ilações de carater operacional ou jurídico que forem pertinentes, por quem de direito.”

O investigador faz questão de lembrar que seria “incompreensível” fazer um estudo deste incêndio em que a equipa fosse limitada a “analisar o comportamento do fogo, deixando de fora todos os restantes aspetos, principalmente os associados aos danos pessoais e às vítimas mortais”.

O coordenador do estudo ao fogo de Pedrógão revela ainda, em longo artigo de opinião no Público, que poderá ler aqui, que tem “recebido da parte dos familiares ou de representantes legais de muitas das vítimas, sobreviventes e testemunhas, a disponibilidade para autorizar a publicação dos relatos a que se reportam”.

Por isso, Xavier Viegas deixa uma promessa.

“Pela nossa parte, tudo faremos para que tal não aconteça e iremos usar a nossa liberdade de investigação e o nosso direito e obrigação de divulgar os resultados da nossa investigação, para a dar a conhecer a todos os que tenham interesse nela”.

O coordenador da investigação aproveita ainda para lembrar que “este incêndio constituiu a maior tragédia que se verificou até hoje, em Portugal, associada a um incêndio florestal, antes de mais pelo número extremamente elevado de vítimas mortais que causou”.

E foi mais longe explicando que o objetivo foi sempre “dar a conhecer os factos que apurámos, registando o que de bom e de mau nos foi dado analisar, sem condenar ou culpar nenhuma pessoa ou entidade”

A ideia passava, sim, por “comunicar, ao público em geral, as lições que se devem retirar destes eventos e para dotar as entidades pertinentes de elementos que lhes permitam suportar um aprofundamento dos factos expostos e a tomada de decisões, quando estas se imponham.”

O relatório aos fogos de Pedrógão Grande foram coordenados por Xavier Viegas e realizados pelo Centro de Estudos sobre Incêndios Florestais, da Universidade de Coimbra.

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