PS conquista a maior vitória em eleições autárquicas, PSD perde maioria de Câmaras, CDU reforça votação e aumenta representação no poder local, CDS conquista cinco municípios, independentes fazem história (com Rui Moreira a ‘devastar’ Menezes e Pizarro), Bloco vê fugir única Câmara e Madeira dá sinais de fim de ciclo a Alberto João Jardim. Numa eleição local, surgem cisões no Governo, com Portas a ‘cantar’ vitória no palco da maior derrota de Passos.
As eleições autárquicas deste domingo permitiram uma vitória expressiva ao PS e à CDU, que têm motivos para celebrar – os socialistas porque alcançaram mais votos, mais Câmaras e uma maioria na capital, a CDU porque conseguiu ganhar representatividade no poder local, expressa não apenas no reforço na votação, mas também pela recuperação de alguns bastiões socialistas, como Évora e Beja.
A esquerda saiu vitoriosa, com exceção do Bloco de Esquerda, que perdeu a única Câmara que detinha, em Salvaterra de Magos. João Semedo também não foi eleito em Lisboa, o que reforça o mau resultado eleitoral do partido.
Mas o Bloco encontrou um motivo para festejar: a “derrota da direita”, que representa um ‘cartão vermelho’ às políticas de austeridade, segundo aquele dirigente bloquista.
E apesar de ter perdido na maioria das coligações com o PSD, o CDS-PP também celebrou estes resultados, ainda que apresente argumentos fortes. Paulo Portas destaca que os centristas conquistaram cinco Câmaras Municipais (em 2009, apenas tinham uma), e destaca também o apoio a Rui Moreira, o independente que varreu o Porto.
E a vitória de Rui Moreira, o novo presidente da Câmara do Porto, faz a ponte para os maiores vencedores da noite, não pela quantidade de concelhos ganhos, mas pelo fenómeno que geraram, tornando-se mais fortes do que as máquinas partidárias.
Aqui, entra em cena Rui Rio, o ‘ausente’ que apoiou Moreira e ajudou à derrota de Luís Filipe Menezes, candidato do PSD. O resultado do Porto levanta o espectro de cisões entre primeiro-ministro e vice-primeiro-ministro, com Portas a cantar vitória naquela que pode ser considerada a maior derrota do PSD, com Menezes a perder, sem apelo nem agravo.
As eleições autárquicas têm um cariz não apenas local e Passos Coelho assumiu-o, no discurso da derrota. António José Seguro, secretário-geral do PS, também tentou ‘nacionalizar’ esta eleição, que, considera, é um castigo aplicado ao Governo.
E ainda que a coligação do Governo PSD-CDS não esteja em risco, a verdade é que estes dois partidos têm de coabitar num cenário em que Passos Coelho sai fragilizado, com a oposição interna a ganhar força. Rui Rio é a expressão dessa realidade.
Com a troika em Portugal e o Orçamento de Estado em preparação, surgem dúvidas sobre a solidez de uma coligação que já sobreviveu a uma grave crise.
De regresso a uma leitura local, destaque para as vitórias do PSD em Braga e do independente Guilherme Pinto em Matosinhos. Estes resultados representam o fim do domínio socialista nestas duas cidades, que sempre liderou. Destaque ainda para a vitória socialista em Gaia, com Eduardo Rodrigues a suceder a Menezes.
Na Madeira, os sociais-democratas perderam sete dos 11 concelhos da região autónoma, incluindo o Funchal. É um sinal inequívoco de derrota de Alberto João Jardim. É a primeira derrota de Jardim e do PSD-Madeira.
Relativamente a percentagens, e a nível nacional, o PS foi o partido mais votado, com 36,3 por cento, enquanto o PSD se quedou pelos 29,2 pontos percentuais. A CDU atingiu os 11,2 por cento, os independentes 6,7, o CDS-PP 5,8 e o Bloco de Esquerda 2,4 por cento.
O PS venceu 136 Câmaras Municipais, o PSD ficou-se pelas 100, a CDU alcançou 30, os independentes 11, o CDS-PP cinco e o Bloco não conseguiu qualquer triunfo. A abstenção bateu um novo recorde.
Os votos ainda não estão totalmente contados, restando apurar resultados em 32 concelhos e 71 freguesias. O escrutínio foi suspenso de madrugada, em virtude de problemas de comunicação, entre a Direção-Geral de Administração Interna e as Juntas de Freguesia e Câmaras Municipais. Hoje, foi retomada a contagem dos votos.