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Assimetrias regionais limitam acesso de doentes respiratórios a cuidados de saúde

O Observatório Nacional das Doenças Respiratórias (ONDR) divulgou na sede da Fundação Portuguesa do Pulmão o Relatório de 2016 referente aos dados da situação atual e evolução das últimas décadas relacionado com as doenças respiratórias.

Por dia morrem 47 portugueses por doenças de foro respiratório. Nos 117 807 doentes com DPOC, apenas cerca de nove por cento tem diagnóstico confirmado por espirometria. As fibroses pulmonares registaram, em 9 anos, um aumento dos internamentos em 69 por cento. O cancro do pulmão representou um aumento em 20,4 por cento no número de óbitos por tumores pulmonares em relação a 2005.

Na 11ª edição do Relatório destacam-se as debilidades do Serviço Nacional de Saúde (SNS) face ao diagnóstico e internamentos na área respiratória, nomeadamente no que concerne às pneumonias e Doença Pulmonar Obstrutiva Crónica (DPOC).

O relatório – que conta, este ano, com a colaboração de 21 especialistas de renome da área da pneumologia e do sector da saúde em Portugal – continua a desmistificar a ideia de que existem médicos em excesso em Portugal e reforça a carência do número de pneumologistas a prestarem serviço nos Hospitais Públicos em Portugal.

Artur Teles de Araújo, presidente do ONDR e da Fundação Portuguesa do Pulmão, indica que “existem acentuadas assimetrias regionais cujas causas têm de se caraterizar, de forma a podermos melhorar a qualidade e o acesso à saúde respiratória dos portugueses”.

“É na Região de Lisboa e Vale do Tejo que se verificam as maiores taxas percentuais de internamentos por Pneumonia, seguidas das regiões norte e centro. Existe uma clara lacuna de acesso a estes cuidados nas outras regiões, como é o caso do Algarve e das Regiões Autónomas dos Açores e da Madeira. Relativamente aos motivos e fatores que condicionam a acessibilidade dos doentes respiratórios a estes cuidados foram referenciados fatores como a distância aos hospitais, o número de dias de internamento e a existência de patologias responsáveis pela gravidade das situações clínicas, e necessidade de monitorização dos doentes”, realça.

O Relatório ONDR 2016 indica ainda que num período de 10 anos, considerando dados entre 2005 e 2013, houve um aumento de 12 por cento da mortalidade global por doenças respiratórias, sendo as doenças mais impactantes para a população a nível da mortalidade os tumores malignos respiratórios, que registaram um aumento de 21 por cento e as pneumonias, que aumentaram em 28 por cento.

“As despesas com a saúde em percentagem do PIB representam 9,5 por cento, ligeiramente acima da média da OCDE. Cerca de 65 por cento desta despesa com a saúde é feita pelo Estado Português, bastante inferior ao que é registado lá fora (72 por cento). Entre 2000 e 2012 a percentagem do PIB decresceu ligeiramente (0,2 por cento) o que trará constrangimentos na prestação de cuidados de saúde. Alguns já temos vindo a sentir, nomeadamente no menor número de enfermeiros e número de camas hospitalares comparativamente com outros países da OCDE. Também existe uma falta de desenvolvimento positiva dos cuidados continuados e paliativos relacionados com esta falta de investimento na saúde” conclui Teles de Araújo.

O relatório mostra que os números das despesas com a saúde aliados à pobreza são um aliado das doenças respiratórias e das doenças, no geral. Em 2014, a percentagem da população em risco de pobreza, antes de pensões e transferências sociais, atingiu os 48 por cento, o que representou um aumento de 29 pontos percentuais, em relação a 1995.

Em 2014 foram internados por doenças do foro respiratório (Asma, DPOC, Pneumonia, Fibroses, Tumores, Bronquiectasias, Patologia Pleural, Tuberculose e Gripe) 69.384 doentes (12,1 por cento do total de internamentos da área médica). Este número representa um aumento de 2,4 por cento num período de 10 anos (2005-2014).

Nem todas as doenças mostraram uma evolução negativa. Foi registada clara melhoria na área dos internamentos por DPOC, que caíram mais de 30 por cento nos últimos 10 anos e, por isso, acrescentaram uma evolução positiva na saúde respiratória que deverá estar associada à melhoria da resposta ao SNS a estes doentes, capazes de controlar a doença maioritariamente em ambulatório.

O relatório ONDR 2015 acrescenta e propõe ainda várias medidas à promoção da saúde e prevenção nas doenças respiratórias, alertando para a importância da aposta na educação para a saúde como a criação de Redes Nacionais de Espirometria, de Cuidados Respiratórios e de Reabilitação Respiratória, acabando assim com lacunas existentes em todas as fases da doença, desde o diagnóstico, ao acompanhamento e tratamento.

Outra proposta apresentada é a criação da Via Verde das Pneumonias nos hospitais que acreditam que ajudará no problema das pneumonias, a doença que maior impacto tem a nível dos internamentos hospitalares (40 por cento dos internamento hospitalares associados às doenças respiratórias). Também a manutenção ou criação, em todos os serviços hospitalares de Pneumologia de Consultas de Doenças do Interstício Pulmonar, doenças que têm tido uma prevalência crescente na população portuguesa, são uma recomendação do ONDR bem como a continuidade na aposta em programas de reabilitação respiratória.

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