Ciência

As pessoas perfecionistas sofreram mais durante a pandemia

Um estudo pioneiro conduzido por uma equipa de investigadores da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra (FMUC) concluiu que as pessoas perfecionistas sofreram mais durante a pandemia de covid-19.

Este estudo, o primeiro a nível internacional a avaliar o papel do perfecionismo no sofrimento psicológico durante a pandemia de covid-19, foi realizado por investigadores do Instituto de Psicologia Médica da FMUC, dirigido pelo professor catedrático António Macedo, em colaboração com a Escola Superior de Tecnologia da Saúde de Coimbra (ESTeSC).

Segundo os resultados da investigação, publicada na revista científica Personality and Individual Differences, com o título ‘Covid-19 psychological impact: The role of perfectionism’, as pessoas mais perfecionistas “tiveram mais medo da covid-19, pensaram mais repetida e negativamente sobre a pandemia e as suas consequências e isso levou a que tivessem mais sintomas de depressão, ansiedade e stress”, explica Ana Telma Pereira, docente da FMUC e coordenadora do estudo.

O perfecionismo é um traço de personalidade caracterizado pela tendência para estabelecer padrões de desempenho excessivamente elevados, “acompanhada de (auto)avaliação demasiado crítica e evitamento de falhas. As pessoas perfecionistas têm risco elevado de sofrer de ansiedade, depressão e stress”, esclarece.

Ana Telma Pereira, docente da FMUC e coordenadora do estudo

A amostra do estudo foi constituída por 413 adultos, homens e mulheres, da população portuguesa, recrutados entre setembro e dezembro de 2020. Embora as mulheres tenham demonstrando níveis mais elevados de «perfecionismo (na sua dimensão autocrítica), pensamento repetitivo negativo (preocupação e ruminação) e perturbação psicológica do que os homens, as três facetas do perfecionismo que avaliámos, e que são atualmente as consideradas mais relevantes (perfecionismo rígido,

autocrítico e narcísico), tiveram este efeito de aumentar a perturbação psicológica, independentemente do género», realça Ana Telma Pereira.

A investigadora e docente explica que as reações psicológicas a pandemias dependem muito da personalidade da pessoa, uma vez que «são influenciadas pelos traços de personalidade, pois estes determinam a forma como interpretamos as situações e, portanto, as emoções e comportamentos que geram».

“Este foi o primeiro estudo publicado na literatura científica internacional a comprovar empiricamente o impacto negativo do traço de personalidade nas reações psicológicas à pandemia de covid-19. Mais concretamente, verificámos que as diversas componentes do perfecionismo, quer intrapessoais (o próprio exigir-se a excelência), quer interpessoais (entender que os outros lhe exigem perfeição e, também, exigi-la aos outros), geraram mais ansiedade, depressão e stress face à pandemia”, especifica.

Tendo em conta que o perfecionismo tem vindo a aumentar significativamente «nas duas últimas décadas, principalmente entre os jovens, falando-se mesmo de uma ‘epidemia de perfecionismo'”, Ana Telma Pereira nota que os resultados deste estudo evidenciam que “o perfecionismo deve ser tido em conta na avaliação, prevenção e tratamento do impacto psicológico da(s) pandemia(s”).

“É difícil alterar a personalidade, mas é possível ajudar as pessoas a reconhecer os seus traços e a desenvolver formas de lidar com os acontecimentos de vida que sejam menos negativamente influenciadas por eles”, diz.

Além de Ana Telma Pereira e António Macedo, a equipa integra Carolina Cabaços, Ana Araújo, Ana Paula Amaral e Frederica Carvalho.

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