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As Mentes que criaram os Sinais Universais

O stress e a correria dos nossos dias não nos dão o tempo necessário para reparar em todos os pequenos detalhes daquilo que nos rodeia. Temos sempre tendência para nos centrarmos em nós e nos nossos, deixando os outros de fora deste círculo imaginário. E uma das coisas em que aposto que ninguém repara são os sinais universais. “Sinais Universais? O que é isso?”. O nome pode parecer estranho, mas acredite que sabe o que é. Está a ver o símbolo universal para uma casa de banho? E aquele para umas escadas rolantes? E aquele outro para umas meras escadas, também? Pronto, isso são sinais universais: estão em todo o lado, suplantam barreiras linguísticas e existem há dezenas de anos. Esta crónica é uma viagem no tempo em busca das mentes por trás de ideias tão simples e, ao mesmo tempo, tão geniais!

Tudo começou em meados dos anos 70, nos Estados Unidos da América (EUA). O US Department of Transportation (DOT) apercebeu-se do quão ineficazes eram os sinais de informação, indicação, proibição e afins presentes nos espaços públicos e privados. Eles existiam, mas não eram suficientemente claros. E a própria população não estava particularmente satisfeita com o aspecto estético dos mesmos.

Era, portanto, tempo de agir e o Bicentenário da Fundação dos EUA (em 1976) era a altura ideal para estrear todos estes novos sinais. Para realizar esta tarefa, de extrema importância, foi contratado o American Institute of Graphic Arts (AIGA). E agora pergunta o estimado leitor: “Mas porque razão foi escolhida essa instituição?”. A resposta é mais simples do que parece: era a instituição mais antiga, mais reputada, e com os melhores profissionais de todo o continente.

Na fase inicial foi feita uma aprofundada pesquisa para tentar perceber que símbolos eram utilizados noutras partes do globo. Sim, porque o objectivo era criar símbolos novos e não copiar os que já existiam por esse mundo fora, como é óbvio! Este trabalho foi encarado com muita seriedade pela equipa do AIGA, afinal de contas o resultado final seria aplicado a nível nacional (e internacional, mas na altura eles não podiam prever isso).

Durante vários meses foram feitos testes atrás de testes, tentativas atrás de tentativas, desenhos atrás de desenhos criando largas dezenas de hipóteses para cada sinal. É que, se pensarmos bem, esta tarefa era de extrema dificuldade. Hoje parece-nos óbvio qual deve de ser o sinal para o WC ou de que é proibido fumar em determinado local, mas isso é porque convivemos com eles há quase quarenta anos. Tornou-se parte de nós, da nossa vida, da nossa rotina. É algo que não só aceitamos como nos satisfaz (caso contrário veríamos as pessoas colocar em causa o facto da senhora do sinal do WC ter um vestido e não um par de calças, por exemplo).

Os trinta e quatro símbolos inicialmente pedidos levaram cerca de um ano a criar. O processo demorou tanto tempo e exigiu tantos recursos por parte da AIGA que existia o receio de perder os restantes clientes. É que todos os membros disponíveis foram relocalizados para trabalharem naquele projecto, deixando os restantes completamente suspensos. E numa era em que os computadores ainda davam apenas os primeiros passos foi necessário fazer tudo à mão. Conclusão? O processo acabou por se estender por um pouco mais de tempo do que era previsto e foram usadas largos milhares de folhas (dado que tinham que ser feitos vários esboços de cada hipótese para serem aprovados pelas várias entidades governamentais norte-americanas envolvidas no projecto).

A maior preocupação era garantir que os sinais eram suficientemente claros e directos. Não era admissível que um cidadão olhasse para a parede e não percebesse a informação que lá estava, por exemplo. E embora o projecto se tenha atrasado por esse motivo podemos dizer que foi por uma boa razão. A prova disso é que tantos anos depois esses mesmos sinais não só continuam a existir como se revelaram universais. Aquilo que, inicialmente, foi pensado apenas para os EUA revelou-se tão eficaz que acabou por ser aplicado um pouco por todo o mundo. Seja qual for a língua, o país ou o continente, existe uma grande probabilidade de encontrar símbolos e conhece, e reconhece, facilmente.

Os trinta e quatro símbolos foram aplicados inicialmente em cinco estados, tendo sido posteriormente colocados nas restantes cidades, até chegar a todos os Estados Unidos da América. Houve ainda o cuidado de os mostrar às crianças nas escolas e aos idosos nos lares e casas de repouso, assim como à imprensa a nível nacional e internacional.

Apenas três anos depois, em 1979, os serviços da AIGA voltaram a ser solicitados pelo DOT, desta vez para a introdução adicional de dezasseis símbolos. Em 1985 os símbolos voltariam a conhecer um novo alargamento, desta vez de apenas cinco figuras.

Numa época marcada pelo elevado ritmo a que todos nós levamos as nossas vidas não deixa de ser aliciante fazer algumas pausas para respirar, e para dar a devida atenção aos detalhes.

Estes símbolos são apenas detalhes, é certo, mas sem eles a nossa vida seria um caos.

Lembrem-se sempre que as notas de rodapé podem ser insignificantes, mas se não fossem necessárias não estariam lá.

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