O primeiro-ministro, António Costa, pediu hoje cooperação entre democratas no combate “aos discursos do medo da extrema-direita” europeia, e considerou essencial a existência de estabilidade política e de um Governo em plenitude de funções em Espanha.
António Costa assumiu estas posições em Bilbau, após receber o Prémio da Fundação Ramón Rubial pela “Defesa dos valores socialistas”, num discurso que dedicou aos líderes históricos do PS, Mário Soares, e do Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE), Felipe González.
“Ao evocar Mário Soares e Felipe González quero também homenagear todos os outros camaradas e companheiros socialistas, portugueses e espanhóis, que contribuíram com tanto sacrifício para as conquistas alcançadas em nome dos ideais que partilhamos: Liberdade, democracia, tolerância e capacidade de diálogo, progresso económico e justiça social”, disse.
De acordo com António Costa, vivem-se atualmente “tempos incertos e perigosos”, com a extrema-direita a crescer na Europa e com a democracia a dar sinais de “riscos sérios de erosão, inclusivamente em países com larga tradição democrática”.
“A nossa missão como socialistas é combater aqueles que exploram o medo em proveito próprio e como instrumento para chegarem ao poder. Este é um combate que deve ser travado em cooperação internacional”, advertiu, antes de enumerar desafios como as alterações climáticas, a sociedade digital, as migrações, o terrorismo e a desigualdades económicas e sociais.
Estes desafios, na perspetiva do líder do executivo português, exigem esforços de investimento na saúde pública, na educação, nas qualificações, na inovação e no direito ao trabalho digno com bons salários.
Neste contexto, António Costa saudou a “perseverança e tenacidade” do líder socialista e chefe do Governo espanhol, Pedro Sánchez, dizendo que tem pela frente “uma missão complexa”, e fazendo votos para que “Espanha tenha rapidamente” um executivo “progressista” – uma parte do discurso que foi muito aplaudida pelos socialistas bascos que enchiam a plateia do auditório.
“A estabilidade institucional é fundamental para as nossas relações bilaterais”, alegou logo a seguir o primeiro-ministro português, apontando como exemplos a cooperação transfronteiriça, a gestão de recursos comuns (como os rios), o abastecimento energético, a educação, a agenda digital, os assuntos sociais, a política de infraestruturas de transporte, o turismo e a segurança interna e externa.
“Não temos relações tão densas com outro país como com Espanha e, por isso, esperamos que, em breve, possa haver um Governo a funcionar em pleno. Em Portugal, há quem diga que sou otimista irritante. Pois bem, penso que o otimismo é uma característica essencial a qualquer bom socialista, porque sem otimismo não há esperança”, alegou – aqui numa alusão a uma caracterização que lhe foi feita pelo Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, e que provocou alguns risos na plateia.
Para António Costa, ser socialista consiste antes de tudo em defender e promover a liberdade e a solidariedade concreta de oportunidades, “significa estar do lado dos que mais necessitam e criar condições políticas para um marco social que permita a emancipação cívica, económica e cultural de todos dos cidadãos”.
“Nos nossos países tivemos séculos de inquisição, décadas de ditadura, sabemos o que nos custou a liberdade”, frisou na parte final da sua intervenção lida em castelhano, onde classificou igualmente como inaceitáveis fenómenos de “regressão cívica, de erosão da democracia, de regressão económica ou cultural com o crescimento da intolerância”.
“Interpreto este prémio como o reconhecimento do que fizemos estes últimos anos em Portugal. Demonstrámos que era possível virar a página da austeridade, consolidando as finanças públicas, e um aspeto essencial foi o diálogo frutífero que tivemos – e que queremos seguir – com as outras forças de esquerda. O fim da incomunicabilidade da esquerda foi um aspeto decisivo na democracia portuguesa”, considerou.
Na sua intervenção, o primeiro-ministro deixou ainda a promessa de que trabalhará em conjunto com os socialistas espanhóis em defesa de ideais como uma construção europeia “mais solidária, com mais democracia e prosperidade partilhada”.
“Queremos uma Europa mais livre, justa e fraterna”, acrescentou.
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