Economia

Ambar quer aumentar peso das exportações para 60% das vendas até 2021

A empresa de material escolar e de escritório Ambar, que este mês celebra 80 anos, quer aumentar dos atuais 40 por cento para 60 por cento o peso da faturação no exterior até 2021, apostando na Europa, PALOP e Emirados Árabes Unidos.

Em entrevista à agência Lusa, o presidente da empresa, José Ferreira, destaca o muito maior potencial de valorização dos produtos da Ambar no mercado externo, cuja dimensão e rendimento ‘per capita’ em muito superam o mercado português, que em 2015 representava 80 por cento a 90 por cento do volume de negócios da empresa.

A aposta nas exportações foi, por isso, uma das estratégias desde logo assumidas por José Ferreira e pelo sócio, José Costa, dois empresários de Barcelos da área têxtil e automóvel que em 2014 adquiriram 70 por cento do capital de uma Ambar a braços com um Processo Especial de Revitalização (PER) que começou por propor a liquidação da empresa e que acabou por prosseguir pelas mãos de um grupo de quadros.

Entretanto, divergências estratégicas com os dois quadros que tinham ficado com 30 por cento do capital e assumido a liderança executiva da Ambar levaram a que os empresários de Barcelos acabassem por adquirir a totalidade da empresa, onde já investiram um total de cinco milhões de euros.

Previsto está um investimento adicional de 10 milhões de euros numa nova fábrica em Barqueiros, Barcelos, para onde vão ser transferidas as instalações da empresa, que praticamente desde a sua fundação por Américo Barbosa, em 1939, se encontra na zona industrial do Porto.

De acordo com José Ferreira, 30 a 40 por cento da produção foi já transferida para Barcelos, para instalações provisórias arrendadas, estando calendarizada a deslocalização de mais 25 por cento no próximo ano e instalação definitiva na nova fábrica de Barqueiros em 2021.

Para além da aposta no mercado externo, a diversificação dos segmentos de negócio foi outra das opções estratégicas da nova gestão da Ambar, que detetou um défice de imagem da marca nas gerações mais jovens e decidiu contorná-lo entrando num novo nicho de mercado: os brinquedos científicos e pedagógicos, com a Ambarscience, lançada no final de 2017.

“Os novos compradores não vivem muito da marca, mas sim do que veem nas redes sociais e tivemos que mudar um bocadinho o paradigma, porque as pessoas com mais de 40 anos reconhecem a marca, mas os mais novos não têm nenhuma afinidade. Daí este projeto, que tem a chancela da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto”, afirmou o presidente.

Apesar de se encontrar ainda em fase inicial de desenvolvimento, o objetivo da administração é que este novo segmento venha a representar 25 por cento das vendas da Ambar “dentro de dois ou três anos”, acompanhando o processo de internacionalização da empresa.

Outra das novas apostas é no segmento da sustentabilidade, com o lançamento de uma nova gama de produtos com pasta de papel feita com uma parte de algodão, numa parceria com a empresa têxtil de José Ferreira, a Valérius.

“No último ano andamos a ligar o setor têxtil ao setor do papel. Fizemos uma parceria entre a Ambar e a Valérius – o projeto 360 – que passa por fazer papel algodão a partir dos desperdícios do têxtil (terceiro setor maior poluidor do mundo) e do papel e usá-lo em produtos Ambar, desde ‘notebooks’ a caixas”, explicou.

Esta nova área de negócio está ainda em fase inicial, prevendo-se que os primeiros produtos em papel algodão totalmente reciclado da Ambar cheguem ao mercado no final de 2019.

José Ferreira destaca o potencial desta nova área nos mercados externos, nomeadamente nos países nórdicos, onde a procura por produtos ambientalmente sustentáveis é muito elevada. Tal como nos brinquedos pedagógicos, a expectativa é que este novo segmento venha a representar, “dentro de três ou quatro anos”, uma fatia em torno dos 25 por cento da faturação total da Ambar.

Com uma faturação de 8,5 milhões de euros em 2018, mais do dobro dos quatro milhões de euros de 2015, a Ambar pretende continuar a crescer a um ritmo percentual de dois dígitos nos próximos anos, apontando como meta para 2019 os dez milhões de euros e como alvo a cinco anos os 15 a 20 milhões.

A concretizar-se esta previsão, a empresa – que emprega perto de centena e meia de trabalhadores – atingirá cerca de metade da faturação de 40 milhões de euros que chegou a registar no início do milénio, em que detinha uma quota de mercado na ordem dos 90 por cento, contra os atuais 20 por cento que estima ter atualmente.

José Ferreira prefere ainda o foco na rentabilidade, considerando insuficiente o atual EBITDA (lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações) de 8 por cento e traçando como objetivo “subir para os dois dígitos” já em 2019 e atingir os 12 por cento “a partir de 2020/2021”.

Relativamente ao Processo Especial de Revitalização (PER) da Ambar, o empresário diz que quando chegou à empresa encontrou uma dívida de 4,4 milhões de euros a fornecedores, trabalhadores e Autoridade Tributária, mas garante que “80 por cento a 90 por cento do plano já está cumprido”, decorrendo apenas um “suave” plano de pagamentos, a 12 anos, da dívida ao Estado.

Apesar de a evolução do negócio estar a ser mais lenta do que o inicialmente previsto – o plano de negócios anterior previa uma faturação de 12 milhões de euros em 2015, mas ficou-se pela metade – José Ferreira garante não se arrepende da aposta feita na Ambar.

“Marcas com 80 anos em Portugal há poucas e neste setor é a única. Temos é que trabalhar para o futuro e ter produtos que vão apanhar as pessoas quando estão já em idade adulta, mas também fazer com que reconheçam a marca ainda na infância”, sustentou.

Em destaque

Subir