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Abelhas: Estarão as domesticadas a passar doenças às selvagens?

abelhas domesticadas 210abelhas domesticadasUm estudo publicado na Nature aponta a possibilidade das abelhas domesticadas (para produção de mel) estarem a infetar as ‘primas’ selvagens. A proliferação de vírus e parasitas acelera o declínio de uma espécie cuja população está em queda acentuada.

Há cada vez menos abelhas no mundo e, entre as que resistem, existe uma forte possibilidade das abelhas domesticadas (para produção de mel) estarem a infetar as ‘primas’ selvagens. Essa possibilidade está na base de uma investigação cujo resumo foi publicado anteontem na revista Nature.

Através de ensaios em laboratório, os cientistas concluíram que as ‘Bombus terrestris’, uma variedade silvestre também conhecida por abelhão, são infetadas quando entram em contacto com vírus ou parasitas que afetam as abelhas melíferas (produtoras de mel):

A primeira experiência teve por base a exposição dos abelhões a dois agentes patogénicos: o vírus de asa deformada e o parasita ‘Nosema ceranae’.

“Nós detetámos que esses patógenicos são realmente contagiosos e reduzem significativamente a longevidade dos insetos”, salientou Matthias Fuerst, investigador da Universidade de Londres e um dos autores do estudo.

Neste ensaio, a esperança de vida das abelhas selvagens, habitualmente de 21 dias, ficou reduzida entre um terço a um quarto nos casos de infeção.

A segunda experiência teve por cobais abelhões e abelhas melíferas de 26 regiões da Grã-Bretanha. Através da comparação dos níveis de agentes patogénicos apresentados, que eram semelhantes, os cientistas concluíram que existe uma conexão entre as ‘primas’.

O terceiro ensaio analisou as variantes desses agentes patogénicos, mas não possível extrair uma conclusão válida.

Os resultados apontam para que as flores sejam os principais veículos da infeção, embora também possa ocorrer quando um enxame invade uma colmeia alheia em busca de néctar ou mel.

Populações em declínio

As conclusões podem abrir portas importantes para descobrir o que está na origem de um acentuado declínio na população de abelhas, quer domesticadas, quer selvagens.

Mark Brown, outro investigador envolvido no estudo, lembra que é possível tratar doenças nas melíferas, o que não acontece com os abelhões.

“Não podemos sair e procurar colmeias para tratar as abelhas. Já é um desafio tratar populações selvagens de mamíferos onde há um pequeno número de indivíduos e os animais são grandes”, argumentou.

Daí que seja importante controlar as domesticadas para que não infetem as silvestres, reforçou Brown: “precisamos que elas sejam tão limpas quanto possível, de forma que a contaminação do meio ambiente seja mitigada”.

As abelhas são fundamentais para a polinização, a qual é essencial para a agricultura. De acordo com um relatório da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação (FAO), os insetos polinizadores são responsáveis pela produtividade de pelo menos 70 por cento das grandes culturas humanas.

Convertendo em dinheiro, o trabalho dos insetores polinizadores valia, em 2005, 153 mil milhões de euros, sendo as abelhas (em especial as selvagens) responsáveis por 80 por cento desses serviços.

“É uma preocupação séria porque as abelhas fornecem os serviços de polinização do ecossistema, sem o qual perderíamos grande parte das nossas culturas e uma grande proporção da biodiversidade natural”, sustentou Mark Brown.

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