Trinta anos depois da fundação, os norte-americanos Pixies são hoje “uma banda capaz e trabalhadora” que se dedica a gravar álbuns e a andar em digressão, resumiu o baterista, David Lovering, à agência Lusa.
Neste começo de outono, a banda rock alternativa está em digressão pela Europa, com concerto a 25 de outubro em Lisboa, por causa de um novo álbum, “Beneath the Eyrie”, editado no dia 13.
“Beneath the Eyrie” pode ser contabilizado de diferentes formas. É o sétimo álbum de estúdio, desde que a banda foi formada em 1986, ou apenas o terceiro desde que voltou ao ativo (ao fim de 11 anos de hiato, entre 1993 e 2004).
É a aritmética de uma banda com duas vidas, nesse antes e depois da separação, acrescentando-se ainda o momento da saída em 2013 da baixista Kim Deal, que tinha estado na fundação dos Pixies, ao lado de Black Francis (vocalista e guitarrista), Joey Santiago (guitarrista) e David Lovering (baterista). No lugar dela está hoje Paz Lenchantin.
O novo álbum, que motiva a atual digressão, é mais uma peça na engrenagem da banda, como explicou o baterista de 57 anos.
“Quando a nossa banda voltou a juntar-se em 2004, andámos em digressão durante sete anos e só tocávamos material antigo. Na altura estava tudo porreiro, tocávamos as músicas que as pessoas queriam. Mas em 2011 percebemos que estávamos há mais tempo a tocar as músicas antigas do que os anos todos que tínhamos estado juntos. E isso foi surreal. Fez-nos pensar que tínhamos que fazer alguma coisa nova”, recordou o músico.
Daí terem lançado “Indie Cindy” em 2014, “Head Carrier” em 2016 e agora “Beneath the Eyrie”.
“Sentimos que somos uma banda capaz e trabalhadora. E o que uma banda trabalhadora faz é gravar e andar em digressão. Desde 2011 é só o que temos andado a fazer. Por isso estávamos todos em sintonia. É o que fazemos”, simplificou o músico.
Sobre o novo álbum, que a crítica aponta como sendo gótico e mais soturno – com as desconcertantes letras de Black Francis -, David Lovering rejeita qualquer conceito subjacente.
“Talvez, e sublinho talvez, tenha tido influência o facto de termos estado em gravações no inverno, de ter sido numa antiga igreja convertida num estúdio, numa floresta, num lugar remoto. Por isso, talvez tudo isso tenha conduzido a um lugar que ninguém estava à espera, talvez de forma subliminar tenha dado essa sensação”, explicou.
Todo o processo de trabalho em estúdio foi acompanhado e registado para uma série de 12 episódios de um ‘podcast’ proposto à banda e que está disponível na Internet. Nos episódios, é possível ouvir conversas entre os músicos, depoimentos, ensaios das músicas ainda antes de terem letra.
“O ‘podcast’ não foi ideia nossa e estávamos hesitantes. […] Sinto que este ‘podcast’, para os fãs de Pixies, mostra que somos apenas pessoas a gravar coisas”, descreveu o baterista.
E quem são os fãs dos Pixies? David Lovering responde recuando a 2004, quando a banda voltou ao ativo.
“Quando demos o primeiro concerto em Coachella em 2004 estava um mar de miúdos que não tinha nascido quando aparecemos. Mas todos sabiam as letras. Foi surreal. […] É este o nosso público, uma coleção de miúdos que sabem as coisas antigas e o material novo. E há ainda as pessoas que podiam ser os avós”, contou.
Apesar de ter dito que ficou “devastado” com a separação dos Pixies nos anos 1990 – “foram a minha identidade durante anos” – Lovering é um otimista: “E se não nos tivéssemos separados? Se calhar não estaria a falar contigo e a dar concertos”.
“Temos muita sorte. Somos os ‘Grateful Dead’ do rock alternativo”, disse.
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