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“A pessoa descer à terra sem alguém que acompanhe é uma degradação da relação humana”

A realidade dos funerais de corpos não reclamados

Os números são como o algodão e, por mais que se façam leituras, não enganam. E, em Portugal, tem vindo a suceder-se uma tendência preocupante no que respeita ao número de pessoas que são sepultadas sem ninguém a assistir à cerimónia fúnebre, salvo um ou outro voluntário e, logicamente, os funcionários das funerárias e cemitérios.

É uma espécie de sinal dos tempos que motiva lamentos de quem, de forma voluntária, vai a funerais de gente que fica ‘esquecida’ após a morte e ainda antes de descer à terra.

Voluntário da Irmandade de São Roque, José Martins não nega que “uma pessoa só faz a diferença” no último adeus.

“A pessoa descer à terra sem alguém que acompanhe é, de facto, um motivo de abandono, de completa degradação da relação humana com o próximo”, desabafa José Martins, ouvido pela SIC, onde não escondeu que isto “é um absurdo” na sociedade.

Nos números estão idosos, estrangeiros, pais, filhos, fetos, gente que na hora da morte ficaram sozinhos. Deles sabe-se o nome, a data de nascimento e, logicamente, da morte.

Alguns funerais só acabam por ter apenas os funcionários das funerárias no último adeus.

A situação não é um exclusivo de Lisboa ou Porto. Também ocorre em outras zonas do país. Os corpos não reclamados nos institutos de medicina legal acabam por, ao final de 30 dias, serem encaminhados para a terra onde repousaram na última morada.

“Desumanização da sociedade”, diz Cristina Cordeiro do Instituto Medicina Legal

Cristina Cordeiro, do Instituto Nacional de Medicina Legal, diz que abandonar alguém acaba por mexer consigo.

“Isso choca-me e penso que a sociedade, em geral, deveria também, na minha perspetiva, ficar chocada”, confessou, também ouvida pela reportagem da SIC.

Desde o início deste ano, a Misericórdia de Lisboa já fez 188 funerais, entre os quais cinco eram de pessoas ‘sem nome’.

“É uma coisa que me custa muito, e penso sempre que poderá haver alguém que está à procura daquela pessoa”, disse Cristina Cordeiro.

Em relação aos corpos não reclamados, Cristina Cordeiro diz que a sociedade, porventura, não tem noção de que “há corpos em que as famílias são identificadas e as famílias não pretendem fazer o funeral”.

“Isso choca-me. É uma desumanização da sociedade”, rematou Cristina Cordeiro, do Instituto Nacional de Medicina Legal.

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