Ciência

Nove em cada dez médicos querem enquadramento legal para o uso da inteligência artificial

Em que medida os médicos europeus confiam e utilizam a inteligência artificial (IA)? O que os preocupa e que futuro reserva a IA na área da saúde? Estas são algumas das questões respondidas no relatório ‘Médicos Europeus e AI’ elaborado pelo Medscape, uma plataforma especializada em informação de saúde para médicos.

Entre janeiro e junho de 2024, foram inquiridos 5.355 médicos de Espanha, França, Itália, Reino Unido, Alemanha e Portugal pertencentes a diferentes especialidades, tendo a maioria deles afirmado que deveria existir um enquadramento legal para a utilização da IA na medicina, com os médicos portugueses e espanhóis no topo (93% e 91% respetivamente) seguidos pelos profissionais alemães e italianos, ambos com 88%, e pelos franceses, com 82%.

E a maioria deles acredita que deveria haver supervisão governamental e/ou das associações médicas sobre o uso da IA na saúde.

Com a inteligência artificial a ser disseminada de forma transversal entre várias áreas, incluindo a saúde, os portugueses são dos mais entusiasmados (54%) entre os médicos europeus inquiridos em relação ao futuro da IA no local de trabalho médico, seguidos pelos britânicos (50%) e pelos espanhóis (46%).

Independentemente da forma como se sentem em relação à IA, mais de metade dos médicos inquiridos afirmou que é muito importante estarem informados sobre a IA e as suas aplicações nos cuidados de saúde.

Em termos das especialidades que mais se beneficiariam com a utilização desta tecnologia, existem dois vencedores claros para os médicos inquiridos: a radiologia e a clínica geral. De facto, 75% dos médicos portugueses revelam sentimentos positivos sobre o impacto da IA na interpretação de exames de radiologia, valor que contrasta com o sentimento negativo dos seus colegas espanhóis (75%).  

Contudo, a maioria dos médicos entrevistados em todos os países participantes também consideraria, por exemplo, utilizar a IA para resumir o registo eletrónico de saúde de um paciente antes de uma consulta.

Outra das principais conclusões centra-se no potencial impacto da tecnologia na redução dos casos de negligência médica. Aqui, os médicos italianos (64%), espanhóis (61%) e portugueses (57%) acreditam que a IA irá reduzir estes casos. E em comparação com outros países, os médicos alemães (35%) são mais propensos a pensar que a IA não terá impacto nos casos de negligência e os médicos britânicos (40%) os mais propensos a pensar que o uso da IA irá fazer aumentar estes casos.

Já quando se avalia a possibilidade de utilização desta tecnologia no tratamento de doentes, quase metade dos médicos inquiridos demonstra relutância e afirma não considerar esta possibilidade.

A IA é cada vez mais utilizada nos cuidados de saúde, mas enquanto alguns médicos a acolhem favoravelmente, outros – com os portugueses à cabeça –, temem que ela possa substituir o juízo clínico e o conhecimento médico.

Os alemães são os menos temerosos, com 72% dos profissionais a dizer que estão “pouco preocupados” ou “nada preocupados”, mas os médicos em Portugal representam a fação mais elevada (55%) dos que estão muito ou um pouco preocupados com esta possibilidade.

Por fim, chama atenção o interesse dos doentes na utilização da IA, tema também abordado no levantamento. Um total de 78% dos médicos em Portugal e 77% na Itália consideram que a opinião dos doentes é geralmente favorável à utilização desta tecnologia, embora a maioria dos inquiridos (mais de 79%) tenha manifestado o temor de que doentes que recorrem à IA generativa para obter informações médicas possam receber informações incorretas.

Da mesma forma, cerca de 4 em cada 5 médicos em todos os países incluídos no levantamento estavam preocupados com o facto dos doentes que se autodiagnosticam por meio da IA poderem considerar este caminho mais a sério do que o conhecimento do próprio médico.

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