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Mais de 80 por cento dos professores querem reforma antecipada

Apenas cinco por cento dos professores não defendem mudanças no regime de aposentação, sendo que 84 por cento é a favor da reforma antecipada, revela um estudo nacional baseado em mais de 15 mil respostas, hoje divulgado.

Durante os meses de fevereiro e março, cerca de 19 mil professores responderam a um questionário com mais de 100 perguntas que resultou no “Inquérito Nacional sobre as Condições de Vida e Trabalho na Educação em Portugal”, hoje apresentado em Lisboa.

Dos inquéritos recebidos foram validados mais de 15 mil que revelam que “mais de 75 por cento dos professores estão com exaustão emocional” e “95 por cento é a favor de mudanças no sistema de aposentadoria”, anunciou hoje a investigadora da Universidade Nova de Lisboa, Raquel Varela, que é coordenadora do trabalho pedido pela Federação Nacional de Professores (Fenprof).

Hoje foram divulgados apenas alguns dos resultados do estudo, que ainda não está concluído, uma vez que os investigadores receberam “mais de dois milhões de dados”, explicou Raquel Varela, saudando o trabalho da Fenprof em garantir a distribuição e recolha de milhares de inquéritos pelas escolas de todo o país.

Dos professores com exaustão emocional, a investigadora sublinha que cerca de metade apresentam “sinais preocupantes”: 11,6 por cento revelam sinais intensos de esgotamento emocional, 15,6 por cento sinais críticos e 20,6 por cento marcas plenas de exaustão emocional.

Apenas 23,6 por cento não revelaram ter este problema, segundo os dados hoje apresentados.

Segundo Raquel Varela, esta situação leva a que os docentes “anseiem pelo sábado e detestem a segunda-feira”, um sintoma que deve ser olhado com atenção.

A exaustão emocional faz com que “esta categoria profissional queira deixar de trabalhar, porque este é um sentimento de defesa contra a loucura do trabalho”, explicou.

A investigadora lembrou que quando os profissionais entram em sofrimento no local de trabalho usam várias estratégias para se defender, tais como a toma de medicamentos ou o absentismo.

“Constatamos no nosso dia-a-dia tantas dificuldades de colegas que não se encontram bem e sabemos que deveriam ir para casa descansar, mas não vão”, corroborou o presidente do Sindicato de Professores da Madeira, Francisco Oliveira, durante o Encontro Internacional sobre o Desgaste dos Professores, que decorreu no Fórum Lisboa.

A atual situação laboral dos docentes leva a que “84 por cento seja a favor da reforma antecipada” e “95 por cento a favor de mudar o sistema de aposentadoria”, segundo o inquérito.

“O resultado deste estudo vem realçar e dar força às reivindicações da Fenprof”, sublinhou José Alberto Marques, presidente do Sindicato dos Professores da Grande Lisboa (SPGL), referindo-se a exigências dos sindicatos como a revisão da aposentação e a clarificação dos horários de trabalho.

A excessiva burocracia e a indisciplina dos alunos são duas das razões que levam aos “índices elevadíssimos” de exaustão emocional, que atinge mais os docentes com mais de 55 anos.

As outras duas características de ‘burnout’ – a despersonalização e diminuição da realização pessoal e profissional – não apresentam níveis tão elevados, apesar de o índice de realização ser preocupante: Quase metade dos professores (42,5 por cento) não se sente realizado profissionalmente.

Já os índices de despersonalização são “baixíssimos”, segundo Raquel Varela que explicou que este sintoma se verifica quando o professor deixa de ver os alunos como indivíduos, mas sim “como uma linha de montagem”, passando a haver um afastamento emocional.

O inquérito mostra que, “para a maioria dos professores, os alunos continuam a ser importantes. Apesar do elevado grau de exaustão emocional, os professores gostam dos alunos”, sublinhou.

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