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20 mil trabalhadores venezuelanos saíram da empresa elétrica estatal desde 2016

Vinte mil trabalhadores da empresa estatal Corporação Elétrica Nacional da Venezuela (Corpoelec) abandonaram o trabalho nos últimos dois anos, devido a desmotivação profissional, baixas condições salariais, falta de uniformes e de equipamentos, anunciou hoje fonte sindical.

O alerta foi dado aos jornalistas, em Caracas, pelo diretor da Federação de Trabalhadores Elétricos da Venezuela (Fetraelec), Alexis Rodríguez, que denunciou ainda condições inseguras de trabalho e assédio laboral.

“Desde janeiro de 2018 o êxodo já atingiu os 10.000 trabalhadores”, disse, precisando que mais de metade dos trabalhadores da Corpoelec emigraram e que não há pessoal suficiente para realizar as operações regulares e para atender as emergências.

Alexis Rodríguez acrescentou que a Corpoelec abandonou, em finais de agosto último, as negociações para um novo contrato de trabalho coletivo e denunciou que a empresa não cumpre as obrigações salariais, eliminou bónus e outros benefícios usufruídos pelos trabalhadores, além de não respeitar as tabelas salariais.

“Há muitos trabalhadores que já manifestaram a intenção de deixar a empresa se até dezembro não for assinado um novo contrato de trabalho coletivo”, frisou.

Segundo a Fetraelec, a empresa elétrica estatal venezuelana tem tentado resolver a situação do êxodo de trabalhadores, recorrendo à contratação temporária de pessoal inexperiente, até 31 de dezembro de 2018, ao abrigo do programa estatal “chamba juvenil” (trabalho juvenil).

Na Venezuela são cada vez mais constantes e prolongados os apagões elétricos, uma situação que o Governo venezuelano tem atribuído a roedores, iguanas, raios, e mais recentemente a atos de sabotagem.

A oposição e centenas de trabalhadores da empresa atribuem a situação à falta de manutenção e de investimento no setor.

Os apagões, que até há pouco ocorriam com maior frequência no interior do país, afetam agora, com regularidade a capital, onde também se registam protestos pela situação.

Em La Florida, na capital do país, a população está desde a última quinta-feira sem energia elétrica. Em La campiña, onde funcionam os escritórios da agência Lusa, não há energia elétrica desde a noite de segunda-feira.

Em El Paraíso Caracas, a população viu restituído, na noite de segunda-feira o serviço elétrico depois de sair à rua para protestar por estar há três dias sem eletricidade.

Na segunda-feira, o atual vice-ministro de Comunicação Internacional do Ministério de Relações Exteriores e ex-diretor da Comissão Nacional de Telecomunicações, William Castillo, usou a rede social Twitter para pedir fosse reparado um apagão na zona.

“Sem luz em Bello Monte, desde as 21:45 horas de ontem… Alóoo, Corpoelec?”, escreveu no Twitter.

Os apagões têm também sido questionados pelo próprio regime, nomeadamente no portal de notícias dirigidas a revolucionários, Aporrea.

“Um dos maiores exemplos do desastre governamental encontra-se na Corpoelec (…) os constantes apagões são uma demonstração do desastre deste sistema, devido a múltiplos fatores, entre eles a voraz corrupção que devorou milhares de milhões de dólares, em grande parte com compras fantasmas de equipamentos que jamais chegaram à Venezuela”, lê-se naquele portal.

Segundo o Aporrea, “a falta de investimento, consequência da escassez de divisas, leva a que progressivamente os equipamentos e as redes fiquem obsoletas face ao aumento da procura e as novas tecnologia”.

“A partida de profissionais e técnicos devido aos salários de fome que os trabalhadores recebem e a burocracia transfere para os clientes as responsabilidades inerentes às empresas elétricas estatais”, explica o portal.

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