Este vírus causa microcefalia em bebés, não é zika e está em todo o mundo
Chama-se “citomegalovírus”, é pouco conhecido, não tem vacina ou tratamento e transmite-se com facilidade. Ofuscado pelo zika, também provoca malformações congénitas, entre as quais a microcefalia. E está em todo o mundo.
O zika permanece na agenda mediática, ofuscando outros vírus como o citomegalovírus, também conhecido como CMV, facilmente transmissível através do suor, da saliva ou mesmo das lágrimas.
Antes do advento do zika, o citomegalovírus era considerado como o principal responsável por casos de microcefalia em todo o mundo, ou de outros problemas de saúde.
Agora, surge um alerta para este vírus, em direção à comunidade médica, mas também direcionado para os órgãos de comunicação social.
“Enquanto nos preocupamos (e bem) com os nossos bebés infetados com o zika, temos de nos lembrar que existe outra infeção viral, responsável por milhares de malformações congénitas nos EUA, todos os anos”, salienta, em declarações ao The New York Times, Mark Schleiss, médico especialista em doenças infeciosas.
Schleiss, que também é diretor da área pediátrica da Escola de Medicina da Universidade de Minnesota, salienta que o CMV deve merecer atenção “não só nos Estados Unidos, mas também na Europa”.
Esta opinião de Mark Schleiss é partilhada pelo neuropediatra espanhol Alejandro Reyes Martín, professor da Universidade de Alcalá de Henares.
“O citomegalovírus é a principal causa de malformações congénitas”, realça, à BBC Mundo.
O número de bebés que todos os anos nascem infetados com este vírus é impressionante. Só nos EUA, estima-se que entre 20 mil e 40 mil por ano. Destes, dois em cada 10 desenvolvem problemas como microcefalia, surdez ou algum tipo de problema do foro psiquiátrico.
Estima-se que a prevalência do vírus em todo o mundo se situe entre um e cinco por cento do total de nascimentos. São dados adiantados pela Globo, que cita um estudo da Universidade da Cidade do Cabo, na África do Sul.
O citomegalovírus tem ainda outra caraterística: é sexualmente transmissível. Propaga-se nos fluidos corporais (saliva, urina, lágrimas, entre outros), através do leite materno, ou pelo simples contacto corporal.
Esta associação entre as microcefalias e o zika não é comum a todos os médicos. Segundo revela à BBC Brasil a especialista em infeções Maria Ângela Rocha, do Hospital Universitário Osvaldo Cruz, em Pernambuco, “sempre que vemos algumas alterações nas crianças, pensamos no citomegalovírus primeiro”.
Quando o vírus CMV atinge o organismo, permanece lá durante toda a vida, sendo que o portador poderá transmiti-lo a terceiros.
Os sintomas são praticamente inexistentes, ou assemelham-se a doenças comuns, como a gripe. Pode ser fatal para o feto, pelo que se aconselham cuidados redobrados por parte das grávidas.
Não há vacina para prevenir. Há a consciencialização, os alertas médicos, a divulgação de informação. E a mediatização do zika veio atrapalhar a missão de todos estes meios.
