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Vídeo: A chilena que adota bebés, vivos ou mortos

Bernarda Gallardo tem vindo a adotar bebés nos últimos 12 anos, mas tornou-se num fenómeno por ser o único caso conhecido de uma adotante que aceita mortos. “Todos têm direito a um caixão e a um funeral decente”, explica esta chilena.

Várias pessoas têm sido notícia por adotarem crianças em situações complicadas, mas nenhum é tão desconfortável, numa primeira análise, como a história de Bernarda Gallardo.

Nos últimos 12 anos, esta chilena tem adotado dezenas de bebés: mesmo que estejam mortos.

O caso torna-se mais simples depois de explicado, visto que esta mulher entende que até as crianças que perderam a vida merecem ter alguém que vele por elas.

“Se o bebé vier vivo, tem roupa, comida e um berço. Se vier morto, tem um caixão e um funeral decente”, resumiu Bernarda Gallardo.

Tudo começou, há 12 anos, com uma reportagem num jornal local sobre um bebé assassinado e depois abandonado numa lixeira. Nessa altura, a mulher estava a lidar pela primeira vez com a burocracia de adotar uma criança, pelo que ficou “horrorizada” ao ler aquele caso, pois “aquele bebé poderia ter tido uma vida se eu o tivesse podido adotar”.

Foi então que Bernarda Gallardo percebeu que podia mesmo adotar aquele bebé, a que chamou Aurora, “a deusa romana das auroras”, uma vez que aquela menina “veio trazer luz à escuridão” dos anónimos casos de abandono de crianças mortas.

Olhando agora para trás, a mulher reconhece que o mais difícil nem foi adotar um bebé que tinha perdido a vida, mas sim convencer o juiz de que ela, Bernarda Gallardo, não era a mãe biológica, uma vez que o magistrado estava convencido de que a mulher só pretendia o corpo por estar arrependida de o ter abandonado.

Meses mais tarde, a chilena pôde finalmente adotar Aurora, que foi enterrada “com toda a dignidade” e, para surpresa da adotante, numa cerimónia onde estiveram presentes mais de 500 pessoas, incluindo o céptico juiz do processo e muitas crianças órfãs.

E o que aconteceu no dia seguinte? Um jornal local publicou um novo caso de um bebé abandonado depois de morto. Manuel também foi adotado para ser enterrado, assim como Victor e Cristobal, nesse primeiro ano de ‘atividade’ de Bernarda Gallardo.

Oficialmente, no Chile são encontrados em lixeiras dez bebés mortos por ano. Mas todos sabem que o número real é muito, muito superior.

Há, ainda, um outro motivo para esta dedicação de Bernarda Gallardo. Quando, aos 17 anos, deu à luz a primeira filha tinha sido vítima de violação.

“Há muitas jovens, muitas vezes vítimas de violação ou incesto, que têm medo de contar os horrores por que passaram. Depois de ser violada, eu tive a sorte de poder levantar-me graças aos meus amigos. Se me tivessem abandonado, talvez eu me sentisse impotente como muitas destas jovens mães se sentem”, argumentou.

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