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Professor de Carcavelos acabou com os TPC, os exames, os chumbos e até o toque de entrada

Ficou conhecido como “o professor da escola onde não se chumba”. Mas o diretor do Agrupamento de Escolas de Carcavelos, Adelino Calado, rejeita este epíteto. Adotou, porém, um conjunto de medidas arrojadas. E bem sucedidas. Vamos aos factos?

Desde 2003, Adelino Calado cumpre funções de diretor do Agrupamento de Escolas de Carcavelos. Mais do que um professor que não chumba, foi o homem que não quis aplicar regras nas quais não acredita e mudou o ensino – dentro da sua área de competências – para melhor.

Não se limitou a aplicar as normas vigentes. Foi arrojado acabou com os TPC, recusou os exames, até permitiu que os telemóveis dos alunos permanecessem na sala de aula. Foi mais longe: eliminou a campainha.

Um novo paradigma de escola, para um universo que ronda os 2000 alunos do ensino público.

Naquele ano em que começou as exigentes funções, a escola não era bem frequentada. Adelino Calado conta à Activa que decidiu começar a fumar para poder imiscuir-se nos “gangues” e compreendê-los.

Professor de Educação Física, Adelino Calado lembra que a escola é a casa de muitas crianças e que algumas passam o dia inteiro naqueles estabelecimentos.

E como era a Escola Secundária de Carcavelos, em 2003? Segundo este docente, enfrentava diversos problemas disciplinares, recebia alunos que ninguém pretendia e tinha uma enorme taxa de reprovação.

Adelino Calado decidiu acabar com os chumbos. E fê-lo porque toda a gente percebia que não o ensino não funciona com alunos repetentes. O aluno que chumba não vai querer aprender matéria “requentada”. Além de que se pode transformar num foco de problemas disciplinares.

Imperou o bom senso e “sem fugir à legislação”, procurou alternativas. O diretor do agrupamento sublinha que não toma qualquer medida que esteja fora da lei.

Em vez de chumbar alunos, a escola dá-lhes mais apoio e garante que os estudantes com mais dificuldade acompanham os restantes.

A escola recorreu a outras ferramentas para eliminar os chumbos, desde cursos profissionais a currículos alternativos.

“Dantes a mentalidade escolar era esta: se o aluno estuda, ao fim do ano tem um prémio e passa, se o aluno não estuda, tem um castigo e chumba. O aluno que chumba, no ano seguinte, é o mais velho da sua turma. Tem o poder e a aura dos mal-comportados, e torna-se no líder que não era”, diz Adelino Calado em entrevista à Activa.

A escola detetou tambem que 90 por cento dos problemas disciplinares ocorriam às sextas-feiras. E porquê? Era quando os alunos estavam mais cansados. O problema deu origem a uma solução fácil: às sextas-feiras à tarde, não há aulas.

Outra medida premente foi chamar os pais à escola. Os pais tinham falta, se não comparecessem. Hoje, há assembleias de pais em todos os trimestres. Os alunos também têm voz ativa e participam nestas inovações.

E entre essas inovações está a abolição da campainha. E qual é a taxa de atrasos? Uns ínfimos 0,7 por cento.

Mas esta taxa não ocorre por magia. A escola tem uma regra: os alunos que chegam tarde têm de ir à biblioteca fazer um relatório, explicar o atraso, seguem para o Gabinete do Aluno e telefonam aos pais a explicar o atraso. Vão ainda à direção, carimbar o documento e só depois entram na sala. Alguém quer chegar atrasado? Não.

Os telemóveis são permitidos, mas regulados pelo professor, que pode não autorizar. Os aparelhos podem ser usados para recorrer à Internet, ou para fotografar o quadro. Sempre com uma finalidade: apoio ao estudo. O envio de um SMS a um amigo, por exemplo, pode custar uma suspensão. Alguém quer ser suspenso? Não, mas há quem o seja. Só que são poucos: apenas 15 alunos, desde o início do ano.

A questão do fim dos TPC resulta de um ampla pesquisa que consistiu em dividir alunos por turmas com e sem trabalhos para casa. Depois, foram comparados os rendimentos. Quais as diferenças entre fazer ou não fazer TPC? Absolutamente nenhumas, no que diz respeito ao avanço pedagógico.

Adelino Calado decidiu proibir trabalhos para casa no primeiro ciclo, mas o conselho geral da escola surpreendeu-o: avançou com uma ideia ainda mais arrojada e propôs abolir em todos os anos.

Para o diretor do agrupamento de Carcavelos, os TPC estavam a transformar-se num castigo, desvalorizando-se a componente do trabalho autónomo, aquele que surge por iniciativa do aluno.

E entre o material requisitado pela escola, no início do ano, está um caderno para trabalho autónomo…

O curioso é que alguns pais, os mesmos que criticavam os TPC, passaram a incentivar os filhos a, autonomamente e em casa, reforçarem a sua aprendizagem.

Mais complicado foi acabar com os exames. O mais importante, para a escola, é saber se o aluno aprendeu ou não. Assim, há um teste de aferição no fim de cada período. Não são avaliados conhecimentos, mas aprendizagens. O erro é aceite e corrigido, em vez de assinalado com uma cruz a vermelho.

A questão fundamental será ‘quais as notas da escola?’ Não, a questão fundamental é qual o nível de aprendizagem dos alunos. Há muito poucos alunos com dificuldade. A esmagadora maioria aprendeu.

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