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Os seus Filhos podem não aprender a Escrever à mão

Podemos discordar em muitos aspectos (política, economia, religião, desporto, etc), mas penso que nisto estaremos de acordo: nada é mais importante do que a educação. E quando se fala de educação fala-se de crianças e adolescentes, fala-se do futuro (não só do país mas também do Mundo, obviamente), fala-se do amanhã. E por mais que pense apenas no presente é inevitável preocupar-se com o futuro. Ora e se eu lhe disser que os seus filhos podem vir a não aprender a escrever à mão? Fica preocupado? Será que isso poderá vir a acontecer? Terá que ler esta minha crónica do PT Jornal para o saber!

Eu sei que ficou sobressaltado com a minha polémica afirmação, mas pode sentar-se e respirar fundo porque não é motivo para tanto! Vamos por partes. Primeiro: a medida em causa é real, não foi inventada por mim apenas para o assustar. Segundo: o país onde isso pode vir a acontecer não é Portugal (pelo menos para já). Eu sei que mesmo antes de ler o que tenho para lhe contar já está aí de punhos cerrados preparado para defender a escrita à mão, mas vai ter de se controlar, ok? Vá, vamos lá ser homenzinhos (e mulherzinhas, evidentemente) e ler primeiro a medida, o seu enquadramento e os respectivos argumentos!

A medida em causa foi discutida e, tanto quanto sei será aplicada em breve, num país conhecido pelos avanços em todas as áreas (incluindo a educação) e não num país qualquer.

Falo, obviamente, da Suécia. Sim, “essa” Suécia (até porque, que eu saiba, não existe mais nenhuma…)! Ora nós (e muitos outros países) estamos habituados a olhar para o norte da Europa como os países mais avançados do mundo em muitas áreas, nomeadamente a educação. Ou seja? Esta medida ganha, logo à partida, uma credibilidade difícil de combater.

A verdade é que enquanto o seu filho está a fazer ditados (e cópias) de várias páginas nas aulas de Língua Portuguesa (ou em Inglês, por exemplo), na Suécia as escolas vão extinguir a prática de escrever à mão em favorecimento dos teclados. Ora “teclados” pode ser muita coisa, mas fundamentalmente falamos de telemóveis (ou smarthphones, se preferir), tablets e computadores portáteis.

Aposto que nesta altura boa parte dos leitores estão a perguntar-se: “Mas porque carga de água é que esta medida surgiu? Mas faz algum sentido as crianças deixarem de saber escrever à mão?”. Vamos, mais uma vez, por partes. Primeiro: esta medida surgiu porque…é uma questão de lógica. Se pensarmos bem percebemos que hoje em dia as crianças escrevem muito pouco à mão. Elas falam muito e escrevem muito…mas não à mão. Porquê? Porque têm outras alternativas: telemóveis, tablets, ipod’s, consolas, computadores e por aí fora. Se excluirmos os trabalhos de casa que trazem da escola eles não escrevem à mão de todo!

Reparem: eles não enviam cartas como antigamente e mal tiram notas nos cadernos (tudo fica no telemóvel ou no computador)! Mesmo que tenham que deixar algum recado aos pais/avós…preferem enviar uma sms (dado que até o bisavô tem um telemóvel quanto mais o avô…). Portanto se não escrevem à mão porque raio devem de dedicar tanto tempo de aula, e estudo, precisamente a aprender a escrever à mão? É tudo uma questão de lógica. Segundo: pelo que percebi a medida não é radical! Quer isto dizer que as crianças não vão deixar de saber escrever à mão, vão é passar a ter menos tempo dedicado a isso! Ora tendo em conta o que foi dito acima porque é que os ditados e as cópias não podem ser feitas num teclado (seja ele de onde for) em vez de no tradicional caderno? Começa a fazer algum sentido, não é?

Eu sei que a medida é controversa e que choca ao primeiro impacto. Mas se pensarmos bem na questão é impossível não concordar com alguns argumentos dos legisladores suecos. Até porque mesmo nós, adultos, mal escrevemos à mão. Se excluirmos os blocos de notas, as agendas e as listas das compras (e um ou outro recado para o marido/filho/pai) quantas vezes escrevem à mão no dia-a-dia? Quase nunca, certo? Pois…e já agora, quantas vezes escrevem no telemóvel, no tablet, no computador ou em qualquer outro dispositivo semelhante?

Dezenas de vezes por dia, não é? Pois…então podemos concluir que vos dá muito mais jeito saber escrever num teclado e ser bom, e rápido, nisso do que a escrever à mão? Pronto, acabaram de perceber o porquê desta medida fazer sentido (pelo menos em teoria).

O leitor mais conservador vai agora dizer: “Tenho a certeza que uma das consequências desta medida será uma escrita mais pobre e com mais erros ortográficos!”. E, tenho que confessar, em parte este também é um dos meus receios. Mas só em parte, sabem porquê? Porque hoje em dia as crianças escrevem à mão nas escolas e não é por isso que dão menos erros, certo?

Para sermos justos eu diria que dão tantos erros como antigamente, têm é uma escrita menos diversificada. Mas isso está mais relacionado com o facto de lerem muito pouco (e o pouco que lêem não é o indicado, ainda por cima…) do que com a escrita em si. Mas atenção: hoje em dia só dá erros na internet quem quer! A maioria dos sistemas já detecta os erros ortográficos assinalando-os e dizendo-nos como os corrigir, logo só dá erros quem quer! Em parte o argumento faz sentido, mas os erros ortográficos não podem ser uma desculpa para esta medida não avançar!

O derradeiro argumento que pode ser utilizado para criticar esta medida é, quanto a mim, aquele que está mais próximo da vitória neste acesso combate. Dirão os mais antigos: “Pois, cedam à tentação de colocar as máquinas à nossa volta a fazer tudo e depois digam que elas mandam em nós e que passam a mandar no mundo…”. Este é o maior receio de boa parte das pessoas…e com razão! É impossível não imaginarmos um futuro onde as máquinas dominam o mundo quando os livros, os jogos e os filmes e séries que nos rodeiam abordam o tema mais do que nunca.

Escrever à mão é uma das características que nos tornam humanos! É como se, de repente, deixássemos todos de falar e passássemos apenas a escrever. Era uma parte de nós, humanos, que estava a ser negligenciada em favorecimento da dependência das máquinas.

Sim, hoje em dia o domínio mundial ainda está muito longe de estar nas mãos das máquinas, no entanto é para lá que caminhamos. Elas já estão em todo o lado: nos carros, nas casas, nas empresas, nas ruas e até nos nossos bolsos. E quantos mais anos passarem, e mais avanços tecnológicos fizermos, mais se vai notar o caminho que estamos a tomar.

Posso estar errado (aliás, quero estar errado!), mas temo que os meus filhos e netos vivam num mundo dominado pela tecnologia e onde os humanos não contam para nada. A tecnologia é importante mas não deve nunca servir para anular o ser humano (seja de que forma for). E deixar de escrever à mão é algo que não faz sentido nenhum.

Veremos se a medida é mesmo colocada em prática e o tempo dirá se é bem-sucedida ou não.

A verdade é que a Suécia tem um historial praticamente imaculado no que diz respeito a perceber, antes de todos os outros, para onde devemos caminhar no futuro, contudo este tema trará sempre polémica atrás.

Agora não duvidem de que é apenas uma questão de tempo até este debate começar a acontecer nos restantes países da União Europeia (incluindo em Portugal), nos Estados Unidos da América e um pouco por todo o mundo. É para lá que caminhamos, e é para lá que parece ser o futuro. Resta-nos saber é se aquela luz que vemos ao fundo do túnel é o paraíso ou um comboio que vem contra nós a toda a velocidade.

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