Mundo

Mãe estuda Direito e vasculha redes sociais para encontrar assassino do filho

Patrícia Gusmão, de 40 anos, decidiu estudar Direito, na Universidade de Cuiabá, no Brasil. Quer que se faça justiça pela morte do filho, assassinado em 2016. A polícia não foi capaz de descobrir o paradeiro de Vitinho, o homicida, e esta mãe usa todas as suas forças para o conseguir.

Patrícia é formada em Serviço Social e nunca sonhou tirar o curso de Direito, mas as dúvidas levantadas pelos termos jurídicos referentes ao assassinato do filho levaram-na a encontrar a motivação necessária.

“Eu ficava incomodada por não entender o que o juiz dizia e por precisar sempre de recorrer ao advogado para os compreender”, conta, à BBC.

Patrícia fez questão de seguir de perto o processo de investigação do assassinato do seu filho.

Maik foi assassinado a 1 de maio de 2016, numa festa de aniversário de um dos seus irmãos, numa discoteca, quando Elton Victor, Vitinho, saltou o muro do clube noturno armado com uma pistola.

À data do sucedido, várias testemunhas confessaram à polícia que o criminoso disparou sobre Maik por três ocasiões, quando este o tentou acalmar depois de uma discussão.

“Eu perdi o meu chão”, conta Patrícia Gusmão.

Após perceber que as investigações da polícia não evoluíam como era suposto, Patrícia decidiu empenhar o seu luto em descobrir o paradeiro de Vitinho, que havia fugido depois do crime.

“A Polícia Civil estava muito empenhada, mas sei que há outros diversos casos. Como era eu que tinha perdido o meu filho e era a mais interessada nisso, decidi ir atrás do assassino”, confessou.

Neste contexto, Patrícia, que desempenha funções de comerciante, começou a investigar o caso por conta própria, com recurso a um perfil de Facebook antigo, usado anteriormente pela sua irmã.

De faro apurado, a mãe de Maik começou a adicionar os parentes de Vitinho e a acompanhar as suas rotinas, tendo descoberto, como primeira pista, as publicações de uma prima.

“Essa moça sempre marcava o assassino nas publicações e também interagia com a namorada dele, como se estivessem a passar recados, então fiquei atenta a isso”, explica, em declarações à BBC.

Foi nessa altura que a prima de Vitinho deu à luz o primeiro filho, tendo feito uma publicação com várias pessoas identificadas, entre as quais o assassino de Maik.

Patrícia percebeu, nesse instante, que “estava perto de descobrir para onde ele havia ido” e, depois de entregar todas as informações à delegada da Polícia Civil, conseguiu, com um mandato judicial, o endereço da prima do assassino.

A partir daí o caso ganhou forma, com monitorizações diárias à residência, que acabariam por ser fulcrais em encontrar Vitinho.

O jovem, de 20 anos, acabou detido no local para onde havia fugido depois do crime. Durante o interrogatório, confessou que tinha sido ele a dispara sobre Maik, tendo sido indiciado por homicídio qualificado, motivação fútil e por ter dificultado a defesa da vítima.

Apesar de alguns riscos corridos por Patrícia durante todo processo, a delegada Juliana Chiquito Palhares, da Delegacia de Homícidios e Proteção à Pessoa de Cuiabá, considerou a participação da mãe como preponderante para o fecho do caso.

Vitinho acabou condenado a 16 anos e cinco meses, o que deixou Patrícia insatisfeita, já que pedia que o criminoso ficasse em prisão “pelo resto da vida”.

“A decisão não foi o que eu esperava, pois acredito que ele estará na rua em um tempo muito menor do que 16 anos. Mas como eu já me desgastei muito com tudo isso, preferi aceitar, porque nada que seja decidido vai trazer o meu filho de volta”, disse.

Patrícia encontrou nos estudos a motivação necessária para tentar ultrapassar a morte de Maik, “uma forma que encontrei para homenageá-lo”, confessa.

A família acabou por mudar de casa, tal era o sentimento de saudade na antiga habitação.

Agora, Patrícia Gusmão revela que um dos seus maiores alentos foi, justamente, ter conseguido a condenação de Vitinho.

“Eu não gostaria de viver tudo isso novamente, porque é muito triste. Mas eu sei que se não tivesse encontrado o assassino, ainda estaria procurando, até que ele fosse encontrado”, sublinha.

Em destaque

Subir