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Lisboa está a favor, ou contra, os Tuk Tuk?

Quem acredita que os tuk tuk são a reencarnação de Belzebu que coloque a mão no ar! Pois, era o que eu pensava: estamos todos juntos nesta luta contra os pequenos, e barulhentos, diamantes do turismo lisboeta. Basta andar alguns minutos por Lisboa para constatar que os tuk tuk reúnem algumas características que irritam qualquer um: estão em todo o lado; são muito barulhentos e (na maior parte dos casos) os condutores têm a mania que são donos de tudo e todos. Esta semana a Câmara Municipal de Lisboa, e a respectiva Assembleia Municipal, uniram-se para preservar alguns dos bairros mais históricos da capital. Essa preservação passa, como já devem ter deduzido, pela proibição dos tuk tuk. Mas afinal Lisboa está a favor, ou contra, os tuk tuk? É isso que vou tentar perceber na crónica desta semana!

Se, por mero acaso, pertencem ao clube dos defensores acérrimos destes veículos podem ficar descansados, porque não tenho nada contra vocês. Não sou um ex-cliente insatisfeito, não sou um morador de um bairro histórico lisboeta, e não sou nenhum empresário que se julga prejudicado pelo vosso negócio. Sou apenas um cidadão que tem a sua opinião e que pensa pela sua própria cabeça, ok? Pronto, agora que estamos esclarecidos, (e que eu não ganhei meia dúzia de inimigos) vamos ao cerne da questão.

A notícia foi conhecia ontem e caiu que nem uma bomba: os tuk tuk, e outros veículos turísticos similares, vão deixar de poder circular no Bairro Alto, em Alfama e no Castelo. Ou seja? Finalmente os moradores destes locais vão ter algum descanso (e vão passar a respirar um ar, ligeiramente, mais puro)! E enquanto a maior parte aplaudia a medida a verdade é que alguns mostraram a sua indignação. “Mas faz algum sentido proibi-los de passarem naqueles locais?”. Por acaso até faz caro leitor, senão pense comigo. Naqueles bairros vivem pessoas, certo? Certo. E a esmagadora maioria dessas pessoas são idosas, certo? Certo, mais uma vez.

Portanto o que não faz sentido é de quinze em quinze minutos passar uma motorizada, a abarrotar de estrangeiros evidentemente, que faz tanto barulho que é capaz de ofuscar a televisão (ou a telefonia dependendo das habitações).

A verdadeira magia de Lisboa (e, por consequência, de Portugal) são as pessoas. Claro que as paisagens naturais são belíssimas, que a luz de Lisboa não tem comparação e que os nossos monumentos e museus conquistam cidadãos de qualquer nacionalidade. E, antes que perguntem, sim temos de manter Lisboa atractiva para quem a visita. Mas antes de olharmos pela janela temos de nos olhar ao espelho. A nossa prioridade tem de ser, sempre, quem mora em Lisboa. Esses sim são vitais. Esses sim têm de ser defendidos. Não só porque são portugueses, mas porque pagam os seus impostos e têm tantos direitos como os cidadãos de qualquer outra cidade. É que se os lisboetas não se sentirem protegidos e começarem a perder a qualidade de vida que possuem eles simplesmente…mudam de residência. Ou seja? Se nada for feito para preservar estes bairros históricos daqui a meia dúzia de anos Lisboa é uma cidade banal e vetada ao abandono.

Dito isto volta ao ponto fulcral deste debate. Não fará sentido defender os habitantes do Castelo e de Alfama, fazendo-os permanecer e travando a “invasão” de cidadãos do mundo? Não fará sentido tornar o Bairro Alto um local habitável para pessoas de idade e que apenas querem manter a sua rotina e descansar durante a noite? Claro que sim! E é precisamente por isso que a medida ontem anunciada é tão importante para o futuro da cidade a médio prazo.

Reparem: eu não tenho nada contra os tuk tuk. Nada mesmo. Aliás, até vos digo mais: admito que o conceito está muito engraçado. Contudo a praga da multiplicação estragou tudo. Ao início, quando eram apenas meia dúzia, até era refrescante vê-los pelas ruas lisboetas. Traziam um ar novo. Eram apenas mais uma prova de que Lisboa não pára e que está sempre a acontecer algo de inovador. A questão é que a graça foi desaparecendo progressivamente. Basicamente o sorriso dos empresários do sector turístico é inversamente proporcional ao dos lisboetas.

Mas a quantidade é apenas parte da explicação para tanta irritação com os tuk tuk. A outra parte está relacionada com a atitude dos seus condutores. Sim, porque eles agem como se a estrada fosse toda sua. Todos os cantos e recantos passaram a servir de estacionamento (seja por uns segundos, para que os turistas tirem algumas fotografias, seja por largos minutos na esperança de que apareçam novos clientes). Apitam, gritam e protestam como se fossem os donos daquilo tudo. E é precisamente por causa de atitudes desse género que os lisboetas os odeiam.

Os tuk tuk têm de cumprir as regras, e as leis, tal como qualquer outro negócio. Ponto final parágrafo. Se, no futuro, existir um veículo que provoque menos ruído e que polua menos (e neste caso específico até já é fácil arranjar soluções) não tenho a menor dúvida de que o negócio se vai tornar astronómico. Porque, bem vistas as coisas, todos ganham: os turistas ficam a conhecer melhor Lisboa (ainda por cima uma “Lisboa” diferente, mais autêntica); os bairros históricos ganham mais vida; os pequenos negócios, que antes se limitavam aos clientes do bairro, ganham um novo fôlego e o sector do turismo continua a crescer aumentando os lucros ano após ano.

Concluindo: existem muitas formas de reagir face à enchente de turistas que tomou Lisboa de “assalto”. Uma é deixar tudo andar, esperando um milagre. Outra é pensar a sério, e estudar, este tema encontrando soluções para conservar a magia lisboeta e para tornar o turismo sustentável e amigo do ambiente. Afinal de contas queremos turistas, mas não a qualquer preço. Senão daqui a uns anos quem abandona a capital não são os estrangeiros mas sim nós, os portugueses.

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