Desporto

Jorge Jesus emociona-se a falar da mãe: “Não sei avaliar o sentimento de um filho pela mãe”

Jorge Jesus foi o convidado especial de Daniel Oliveira, no Alta Definição, na SIC, naquela que foi uma data especial que assinalou a edição 400 do programa. O técnico do Sporting Clube de Portugal surgiu como nunca visto, deixando o futebol para segundo plano e abrindo o coração. A emoção tomou conta de Jorge Jesus quando a conversa tocou na sua mãe, falecida em 1994, num momento que deixou o técnico sem palavras, antes de soltar que não “sabia avaliar o sentimento de um filho pela mãe”.

Sentimenal, sincero e emocionado.

Foi desta forma que o treinador do Sporting, Jorge Jesus, surgiu perante Daniel Oliveira, naquela que foi, provavelmente, a primeira entrevista do técnico em que o futebol foi deixado para segundo plano.

O “Russo”, um miúdo que passava grande “parte do tempo na rua”, viajou até à sua infância “industrial” para mostrar o homem por detrás do futebol.

Criado “numa família humilde”, Jorge Jesus contou que, em criança, vendia “cobre e metal” para ter sempre dinheiro e poder ajudar a família, “uma das suas maiores alegrias”.

“Uma das minhas maiores alegrias é reunir a família”, expressou Jesus.

O futebol esteve sempre presente, como é natural, mas despertou verdadeiramente aos 14 anos, quando percebeu que seria o desporto a preencher a sua vida.
Ao longo da entrevista, entre as várias temáticas que Jesus aprofundou, a morte da mãe foi o momento mais delicado.
Emocionado, o técnico admitiu que passou “oito ou nove anos” de luto.

“Só vesti de preto durante esse tempo todo. Eu queria senti-la. Achava que era uma forma de senti-la (pausa). Penso nela todos os dias. Não sei avaliar o que o sentimento de um filho por uma mãe. A minha mãe já faleceu em 1994 e ela continua a estar dentro de mim”, confessou, visivelmente emocionado.

Já a morte de seu pai, que aconteceu há cerca de um ano, revelou-se mais pacificada para Jesus.

“O ciclo da vida é assim. O meu pai faleceu com Alzheimer, uma doença muito complicada. Todos os dias eu saía do treino e ia ver o meu pai, mas foi uma situação completamente diferente, porque o Alzheimer é uma doença degenerativa e cada vez as pessoas vão ficando pior”, afirmou.

A vida de Jorge Jesus, no entanto, gira em torno do futebol, desporto a quem o técnico agradece tudo.

“O futebol deu-me tudo. Deu-me independência económica, ajudou-me a crescer como homem, ajudou a que eu hoje tivesse as posses para poder educar a minha família e ajudá-la. Se não fosse o futebol, não teria sido possível. O futebol ajudou-me a ser responsável, organizado, a saber viver com as regras de uma sociedade. Tudo o que eu hoje sou devo ao futebol, não tenho dúvida nenhuma”, explicou.

A mudança de clubes em Lisboa, do Benfica para o Sporting, não mudou o técnico, que admite “não ter noção da mudança” e que nunca se “sentiu ofendido na rua”. No estádio, contudo, sentiu-se “um traidor”.

Conhecido pelas gafes e calinadas que fazem manchetes, o técnico lembrou que o importante é conseguir passar as suas ideias.

“Apesar de algumas gafes, não deixo de ser um grande treinador. Esta é a minha formação, o futebol. Dou uma calinada, mas o importante é não dar calinadas nas minhas ideias. As ideias têm de ser passadas com muita clareza. Não sou professor de português, sou treinador de futebol”, sublinhou.

A terminar a entrevista, o técnico, de 63 anos, que se considera um homem “politicamente incorreto”, sublinhou que ninguém lhe deve um pedido de desculpas e que perdoa tudo, mas “não esquece”.

“Uma das coisas fundamentais no ser humano é a gratidão. Eu sou grato. Há pessoas que não são tão gratas, mas eu perdoo tudo. Mas não esqueço. Mas também não guardo rancores. Não sei o que é essa palavra. Ou seja, sei o seu significado, mas não entra no meu vocabulário”, conclui.

 

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