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Jogos Olímpicos 2016 – As águas brasileiras onde ninguém quer nadar

Em 2016 regressam as intermináveis maratonas desportivas de todas as modalidades possíveis e imaginárias Sim, estou a referir-me aos Jogos Olímpicos! E o Brasil será o país que vai acolher tudo e todos. Serão dezenas de modalidades praticadas por milhares de atletas de praticamente todas as nacionalidades existentes, (sendo que todos lutam pelo mesmo: a presença no pódio, regressando a casa com uma medalha). Ora enquanto meio mundo está entusiasmado com as olimpíadas a outra metade tem muitas dúvidas na capacidade do Brasil em receber, e organizar, uma competição deste tamanho e importância. E, muito recentemente, as preocupações deste segundo grupo de pessoas aumentou drasticamente. E tudo porque a água dos locais que vão receber as competições aquáticas está em péssimo estado. E por “péssimo estado” entenda-se “correm esgotos a céu aberto directamente para a água”. Coloquem as protecções que acharem necessário porque esta crónica navegará em águas turbulentas!

Uma investigação jornalística da Associated Press (AP) descobriu níveis, perigosamente altos, de vírus e bactérias provenientes de esgotos nas águas onde os atletas vão competir. A AP conduziu quatro rondas de testes em busca de sinais de vírus e bactérias, tendo começado no passado mês de Março. Os resultados têm alarmado especialistas internacionais e preocupado atletas um pouco por todo o mundo.

É que, “por acaso”, alguns dos atletas que se encontram no Rio de Janeiro a treinar para a competição já ficaram doentes com febres altas, vómitos e diarreia. Escusado será dizer que estas doenças podem deixar um atleta “fora de combate” durante vários dias. O que pode diminuir, ou terminar, com os sonhos (e com muitos anos de trabalho) dos atletas e das suas equipas/países.

“Esta é, de longe, a pior qualidade de água que já vimos em toda a nossa carreira “. Quem o disse foi Ivan Bulaja, um treinador da equipa austríaca de vela, que passou meses a treinar na Baía de Guanabara. “Estou certo de que se nadarmos naquela água e ela entrar na nossa boca, ou nariz, que um monte de coisas más acabam por entrar para o nosso corpo.”

E querem saber a pior parte? O Ivan tem razão. Que o diga o atleta David Hussl: “Tive febres altas e muitas dores de estômago, o que me obrigou a passar um dia de cama e outros dois a três dias sem sequer treinar.”.

Agora, não pensem que este é um problema recente porque há muito tempo que a poluição da água tem afligido as áreas urbanas do Brasil. E outra coisa não seria de esperar dado que a maioria dos esgotos não é sequer tratada. No Rio de Janeiro, por exemplo, grande parte dos resíduos é enviado para valas a céu aberto e para afluentes dos rios que “alimentam” os locais olímpicos (manchando assim a imagem de muitas das praias, e locais turísticos, mais emblemáticos do país).

O Dr. Richard Bidgett, director médico do Comité Olímpico Internacional (COI), depois de ter conhecimento dos resultados dos testes da AP afirmou que o COI, e as autoridades brasileiras, devem manter o seu programa de testes apenas para bactérias para determinar se a água é, ou não, segura para os atletas. Porquê? Porque essa é a norma aceite a nível internacional. Ele afirmou ainda: “nós tivemos garantias da Organização Mundial de Saúde (e de outras entidades) que não há risco significativo para a saúde dos atletas”. Ou seja? Está tudo controlado. Pelo menos em teoria.

Muitos especialistas norte-americanos e europeus estão a pressionar as agências reguladoras para incluir o teste viral na determinação da qualidade da água. É que a maioria das doenças proveniente deste tipo de actividades recreativas está relacionada com vírus e não com bactérias. Sim, porque vírus e bactérias não são uma e a mesma coisa.

Passados cinco meses de testes a AP encontrou diferentes tipos de vírus, com diferentes consequências: sendo que diarreia, vómitos ou problemas respiratórios são apenas alguns dos resultados de nadar nestas águas brasileiras. As análises efectuadas demonstraram que a Lagoa Rodrigo de Freitas tem entre 14 milhões e 1,7 biliões de adenovírus por litro. Em comparação, os especialistas na qualidade da água que monitoram as praias no sul da Califórnia (nos Estados Unidos da América) ficam alarmados quando a contagem viral chega a 1000 adenovírus por litro. Basta, por isso, fazer as contas.

Esta é uma questão séria e muito preocupante. Até porque convém não esquecer que (em meados de Agosto de 2016) estarão no Brasil mais de dez mil atletas, de mais de duzentos países! E pelo menos 1500 desses atletas estará em contacto com águas, possivelmente, contaminadas com resíduos provenientes de esgotos domésticos. Seja na Baía de Guanabara, na Praia de Copacabana ou na Lagoa Rodrigo de Freitas a poluição é real e constitui um grande perigo.

Ignorar estes sinais é, no mínimo, imprudente. Porque agora ainda pode ser feita alguma coisa (nem que seja deslocar a competição para outros locais), mas em Agosto do próximo ano pouco haverá a fazer.

Claro que cada atleta terá as suas próprias defesas, e anticorpos, e não é garantido que todos fiquem doentes. Mas as probabilidades parecem ser muito elevadas. Imaginemos que dezenas de atletas ficam, subitamente doentes. A eles juntemos meia dúzia de membros das equipas técnicas e médicas dos atletas. E a todas essas pessoas juntemos ainda largas dezenas de turistas. Têm noção do impacto que um caso com estes contornos pode ter? Está em causa não só a saúde destas pessoas, como a organização de um dos maiores eventos desportivos do mundo e a reputação do Brasil!

Não sou nenhum especialista, nem um particular entusiasta dos Jogos Olímpicos, contudo é impossível ficar indiferente a uma notícia com estes contornos. Todos sabíamos que um vento destas dimensões traria problemas ao Brasil, mas estou certo que ninguém pensou em nada deste género.

Seja qual for o desenvolvimento desta investigação, dos testes que estão a ser realizados e das medidas tomadas pelas autoridades brasileiras o essencial, na minha opinião, é que se evitem problemas de saúde para centenas (ou quem sabe milhares) de pessoas. Afinal de contas, a saúde está acima de tudo. Até de uma medalha de ouro, prata ou bronze.

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