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Imprensa europeia dá pouco realce à queda do Governo em Portugal

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O tema que domina a agenda em Portugal pouco aparece nas primeiras páginas dos jornais europeus. Com a Alemanha a chorar a morte de Helmut Schmidt e a Espanha recear a independência da Catalunha, coube aos jornais britânicos destacar a “aliança inesperada” e “histórica” que derrubou o Governo.

Portugal não é a Grécia, destacou o britânico The Guardian. O jornal aponta que “o radical Bloco de Esquerda, ligado ao partido anti-austeridade da Grécia, Syriza”, e “o mais pequeno Partido Comunista” se aliaram ao “moderado Partido Socialista”, mas salientou que não existe uma coligação de esquerda, apenas “uma aliança sem precedentes” que vai permitir ao PS governar.

Foi “uma aliança inesperada”, complementou o Daily Mail, de uma esquerda que quer governar para aliviar a austeridade.

“A queda do Governo foi uma derrota política para a estratégia de austeridade da zona euro de 19 países, que exigiu reformas económicas a Portugal após o resgate, que foram refletidas nas políticas rejeitadas”, sustentou o tablóide.

Ou, para o Daily Telegraph, uma “aliança histórica” e capaz de provocar danos na linha ideológica que reina na União Europeia.

“Apesar de ter formalmente saído do programa de assistência, a economia mantém-se sobrecarregada com a maior dívida na Europa”, lembrou este jornal, antecipando o cenário em que o Presidente da República seja “forçado a fazer uma inversão de marcha dramática” e indigitar António Costa como primeiro-ministro: “Portugal juntar-se-ia à Grécia e tornar-se-ia na segunda economia do sul da zona euro com forças da extrema-esquerda no poder”.

“Alguns receiam” que Portugal “possa ir pelo mesmo caminho que a Grécia, que precisou de três resgates desde 2010”, atemorizou o The Times.

Na Alemanha, chora-se a morte do antigo chanceler Helmut Schmidt, pelo que a queda do Governo de Passos Coelho pouco espaço ocupou nas primeiras páginas.

O Bild, o jornal com maior circulação no país, referiu como “a oposição de partidos de esquerda derrubou o Governo de centro-direita de Passos Coelho através de uma moção de censura”, apontando como principal motivo “a resistência contra os planos de poupança”.

O Frankfurter Allgemein, lembrando os 11 dias de poder do executivo cujo programa ontem foi chumbado, adiantou que “Aníbal Cavaco Silva tem de decidir se indigita o líder do PS, António Costa, para primeiro-ministro ou se Passos permanece no cargo até novas eleições”.

Aqui ao lado, em Espanha, receia-se a independência da Catalunha, pelo que a formação de um “Governo apoiado pelos quatro partidos da Esquerda”, pois o El Mundo não esqueceu o voto de Os Verdes, pouco destaque mereceu nas primeiras páginas.

O jornal frisou o discurso “intenso” de António Costa como “um momento decisivo na história política de Portugal”.

Já o El País titulou que “Esquerda portuguesa acaba com o Governo conservador” e destacou a promessa do PS em “cumprirem as metas orçamentais”.

A “incerteza”, segundo o ABC, está agora no lado do Presidente da República, pois “o momento decisivo que se vive em Portugal grita por uma rápida designação de um primeiro-ministro”.

Conotado com a direita, o jornal foi mesmo ao ponto de referir que “Portugal entra numa era de instabilidade” e sustentou que, “a qualquer momento”, Bloco e PCP podem “voltar às andanças antieuropeias”.

Na França, como foi feriado, menos destaque ainda mereceu a queda do Governo em Portugal.

“Unidos pela primeira vez em 40 anos de democracia, os partidos da esquerda querem acabar com a política de austeridade”, resumiu o Le Figaro, pormenorizando: “Se a união da esquerda pode parecer natural aos olhos de um observador estrangeiro, é algo histórico em Portugal”.

“O Governo de Passos Coelho durou 11 dias, o mandato mais curto da história democrática portuguesa”, acrescentou o Les Echos.

Já o Le Monde entrevistou Fernando Rosas, apresentado como “um dos ideólogos do Bloco de Esquerda”, para destacar como “a esquerda provoca a queda do Governo e quer ‘virar a página da austeridade’”.

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