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A Geringonça e o Lobo Mau

João Fortes

Sem grande necessidade de evocar o revivalismo da conjuntura política que a nossa democracia atravessou em poucos meses, resta-nos o cimentado e consubstanciado arco governativo da salvação nacional.

A empolgação era muita, tal era a revolução ‘trotskista’ que acalentava as ruas após a tomada de posse do executivo, enquanto isso os cidadãos portugueses anunciavam que estava capitulada a linha de “austeridade” e passariam a aplicar um novo termo no seu léxico de bolso naquelas pequenas conversas de café e da paragem de autocarro: retoma, crescimento, emprego e um orçamento “restritivo”.

Mesmo não querendo ser caceteiro, e repetindo por diversas vezes entre suspiros preocupantes de desabafo, reconheço o mérito político do líder da Geringonça que – com toda a mestria e habilidade técnica, tal Cristiano Ronaldo – se tem vindo a tornar um excelente exemplar da arte do improvisar sem planeamento estratégico.

Tem conseguido sedimentar com cola barata, ao nível dos bazares da ‘china’, um acordo entre ideologias relativamente distintas e distanciadas, e parece ser capaz de unir esforços com os seus parceiros, quando lhe convém publicamente, abominando por completo o Lobo Mau, que de passagem se diga que é a Comissão Europeia.

A nível de interpretação desta governação esquerdista, este Lobo Mau é extremamente dicotómico e depende obviamente da apropriação política para fins públicos e de propaganda, pois se a Europa é boa para o financiamento, coesão e apoio social do nosso país também devia ser boa quando exige algo em troca, correto?

É este o simples preço que o Lobo Mau solicita num projeto integrado de solidariedade e repartição de esforços, mas que deve ser assente na confiança entre os Estados- Membros. Porém, para o Bloco de Esquerda “é pura ideologia o que move a Comissão Europeia”, como referiu Mariana Mortágua, na sua página pessoal no Facebook. Já o secretário-geral do PCP recomenda ao PS que não podemos “interromper o empobrecimento”, mas “ao mesmo tempo aceitar as regras” da União Europeia.

Seria desejável que alguém informasse estes senhores do custo que representaria para  Portugal não estar inserido neste mercado único com um manancial de oportunidades ilimitado para a construção de redes de partilha em todos os sentidos. Parece que a narrativa do protecionismo e economia fechada continuam como alicerces ideológicos destes partidos, conseguindo eu imaginar a nossa geração Erasmus a partir em imensurável delírio em mobilidade “europeia” sem fronteiras para a Costa da Caparica, para Faro, ou mesmo para Évora.

Agora que o (des)governo desta série de ficção científica parece submergir com uma revisão do crescimento em baixa, o que faz denotar as cada vez mais próximas medidas adicionais e o acionamento de um plano B para controlo orçamental do défice público, é essencial que exista um discurso moderado, não fraturante, e um país sem radicalismos e populismos fáceis porque se existe algo que nos mantém unidos, essa ponte é sem dúvida, a União Europeia.

Precisamos, sim, de um caminho maturado, firme, com planeamento e com decisões previsíveis dos nossos agentes políticos e que garantam sinais de confiança para o exterior, já que a estratégia de jogar ao Monopólio numa de ‘all in’, com risco, pujança e criatividade não parecem estar a dar os frutos prometidos.

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