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‘Game of Drones’ é o novo vício ‘underground’ da Austrália

A Austrália está viciada nas corridas de drones, mas é segredo. Como a legislação sobre a aviação civil não é alterada há 20 anos, os ‘Game of Drones’ são ilegais. Por detrás de uma organização legal, a QAROP, há cada vez mais clubes a promover esta actividade ‘underground’.

Lembra-se da primeira regra do clube de combate? E da segunda? Pois, tal como no filme que ajudou a popularizar Brad Pitt, na Austrália não se pode falar no ‘Game of Drones’.

Um pouco por todo o lado, na ilha continente, estão a surgir clubes ‘underground’ onde são feitas corridas com drones.

Armazéns abandonados, quintas, pistas de kart, tudo serve para acelerar vertiginosamente, desde que as autoridades não o saibam.

Isto porque as leis da aviação civil, onde são enquadrados os drones, não são atualizadas há quase duas décadas.

Alguns dos pilotos juntaram-se numa organização, a Quadcopter Aerial Race, Organisation & Promotion (QAROP), que tem por objetivo a luta (legal) pela atualização das leis da aviação e o enquadramento das atividades que envolvem drones civis.

Chris Ballard, diretor da QAROP, adianta que os regulamentos da Australian Civil Aviation Safety Authority (CASA) impedem os drones de sobrevoar áreas densamente povoadas, a menos de 30 metros de uma pessoa à noite, acima dos 400 pés ou, mais simplesmente, fora da linha de visão.

São regras impraticáveis para o FPV, ou ‘first person racing’, como se designam as corridas de drones por terras australianas.

E não julgue é uma brincadeira: quem entra num ‘Game of Drones’ investe muito dinheiro e tempo nos quadcópteros, equipando-os com uma câmera de filmar (indispensável para ‘guiar’ o aparelho) e luzes LED.

“É extremamente viciante. É como jogar um videojogo. Quanto maior velocidade atinges, mais queres atingir”, descreveu Darren French, um piloto que já bateu os 60 quilómetros por hora.

Como em qualquer competição, tudo é planeado ao pormenor. Cada corrida pode envolver cerca de 30 participantes, que cumprem uma sessão de treinos de cinco horas para se adaptarem à pista.

A corrida dura uma hora, exceto quando há um despiste e um drone fica fora da corrida. Ou um choque com outro aparelho, algo que também acontece com frequência.

“Tens uma completa liberdade de movimentos. Porém, como tens de escolher a melhor rota e reagir em instantes de segundo quando algo acontece, estas corridas são extremamente excitantes. Ao mínimo descuido bates numa árvore ou numa parede e estás eliminado”, argumentou Mark Cocquio, outro piloto já com nome na atividade.

Mas também há quem seja mais descontraído quanto a acidentes, como Chad Novak, que de profissão é piloto de aviões: “Para mim, quem não se espeta é porque não tenta o suficiente. É metade do gozo. Eu piloto aviões de tamanho real, mas com os drones eu posso arriscar a passar pelo meio de duas árvores. Se fizer isso no trabalho acabo num caixão, mas se fizer no FPV o máximo que me pode acontecer é ter de construir o drone de novo”.

“Tens essa liberdade, é o sonho que nos fica desde criança, podermos fazer asneiras mas de forma segura e divertida”, reforçou Novak.

A segurança é, alias, um dos requisitos mais citados pela QAROP na luta pela legalização dos ‘Game of Drones’. O outro é o bloqueio tecnológico imposto pela atual legislação.

“A nível técnico, podíamos ter oito pessoas a competir em simultâneo, mas as leis da Austrália limitam as frequências [de controlo por rádio] que podemos usar, pelo que só podem correr quatro de cada vez”, salientou Ballard.

“A Nova Zelândia está muito mais avançada, tem uma legislação mais aberta. Na Austrália, os regulamentos são draconianos porque foram escritos em 1997. Nós usamos tecnologia que ainda há dois ou três anos não existia”, concluiu o diretor da QAROP.

Mas a CASA entende que o quadro legal continua válido. “Apesar de alguns regulamentos não serem aplicados em interiores, as regras de segurança sobrepõem-se a esses, para garantir que os drones não colocam ninguém nem nada em risco”, respondeu o porta-voz do regulador, Peter Gibson.

“Quem quiser participar em corridas de drones tem a obrigação de não causar qualquer risco para as outras pessoas. Se você quiser organizar uma corrida pode consultar-nos para saber qual o melhor procedimento”, acrescentou.

Para competir basta um drone avaliado em cerca de 300 dólares, mas a maioria dos competidores não hesita em investir pelo menos 2000 dólares num bom aparelho.

“Um conjunto de iniciante custa entre mil a 2000 dólares, incluindo acessórios como rádio, óculos e carregador de bateria. Porém, quanto mais se investe, mais barato fica passar para o nível seguinte e, de repente, tem-se um armário cheio de assessórios que custam uns milhares. É preciso adquirir conhecimentos de tudo, desde soldadura a programação em computador básica, aerodinâmica, controlo de voo, transmissão por vídeo… É algo que requer muita paciência”, admitiu Ballard.

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