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E se a logística das cidades fosse assegurada por bicicletas?

Lisboa é sinónimo de paisagens de cortar a respiração e de monumentos imponentes, é um facto. Mas também é sinónimo de muito trânsito e de muita confusão. E é uma pena que assim seja, não é? Aposto que neste preciso instante está o leitor a pensar: “Se ao menos existisse uma forma de retirarmos alguns dos carros de Lisboa…”. Pois, porque essa batalha parece tão grande e desequilibrada que julgamos não valer a pena sequer tentarmos travá-la, não é? E se eu vos disser que é possível retirarmos da capital até dois terços dos carros ligados à logística? Eu sei, parece muito difícil, mas juro que é possível! E é precisamente esse o tema da minha crónica desta semana!

Admito que sou fã de Lisboa. Adoro a sua luz, a sua vida e a sua beleza natural. E sejamos sinceros: para nos deixarmos conquistar por Lisboa apenas é necessário um espírito aberto e um olhar atento. E como apaixonado que sou pela capital portuguesa o trânsito revolta-me bastante (de forma indirecta, refira-se, dado que não tenho que o enfrentar diariamente).

Sempre que vejo aquelas filas intermináveis penso no quão bom seria reduzir, mesmo que de forma mínima, a quantidade de carros que circulam pelas ruas lisboetas. Mas, como é óbvio, acabo sempre por constatar o quão hercúlea seria tal tarefa. Contudo esta semana uma notícia mudou o meu ponto de vista.

É que uma universidade belga realizou um estudo que provou que é perfeitamente possível trocar boa parte dos carros, carrinhas e camiões que fazem transportes de mercadorias por bicicletas convencionais ou eléctricas! O estudo foi conduzido por Cathy Macharis na Vrije Universiteit Brussels, e veio consolidar uma alternativa que nunca tinha sido verdadeiramente estudada.

Diz então este estudo que até 68% da logística adjacente a uma grande cidade pode perfeitamente ser assegurada por meios de transporte alternativos. Esta posição foi posteriormente partilhada também pela Federação Europeia de Ciclistas, ou EFC, (que, confesso, nem sequer sabia que existia) e pela Universidade de Amesterdão (que nos últimos anos também tem desenvolvido investigações nesta área). Agora claro que estas opções têm prós e contras.

Comecemos pelas vantagens. Por um lado o meio ambiente iria agradecer muitíssimo. Sim, porque na pior das hipóteses estamos sempre a falar de largos milhares de veículos, por dia, que deixam de circular em Lisboa! Veículos esses que seriam substituídos por bicicletas não-poluentes. Segundo: Lisboa tornar-se-ia muito mais simpática para os seus moradores e para os turistas. E nos dias de hoje este é um factor que não só é decisivo em termos de saúde como também de atractividade. É que ninguém quer viver numa cidade híper poluída, onde o ar é irrespirável. E quem diz viver diz também visitar. E esse é um risco que nenhum de nós quer correr, certo?

Contudo, também existem desvantagens. Começando logo pelo tempo a mais que as empresas gastariam nos percursos. É que se de carro são cinco minutos, de bicicleta serão no mínimo dez. E, bem vistas as coisas, ainda estamos perante uma grande diferença. Será que quem entrega, e quem recebe, estaria disposto a esperar o dobro do tempo pelos mesmos artigos? Fazer as recolhas, e entregas, de bicicleta não podia, rapidamente, passar a ser algo prejudicial para as empresas em vez de ser benéfico? É que se apenas metade do mercado de trabalho adoptasse estas medidas a outra metade continuaria com os antigos métodos. O que significaria manter os tempos de viagem…uma vantagem em comparação com as empresas que se modernizaram. Uma segunda desvantagem está no custo, que as empresas teriam de suportar, associado à mudança da respectiva frota automóvel. Será que todas as empresas podem, e estão dispostas, a um investimento tão avultado e sem garantias de sucesso?

Este segundo problema podia ser esbatido se o Governo, ou a União Europeia, premiassem (nem que fosse indirectamente) quem se revela amigo do ambiente. A recompensa/desconto não seria por pena das empresas mas sim por estarem a tomar medidas amigos do meio ambiente, reduzindo significativamente as suas emissões de CO2.

Claro que nem todas as mercadorias poderiam passar a ser transportadas por bicicletas. Por tamanho, peso ou mesmo formato, certos objectos teriam sempre de ser transportados por carrinhas ou camiões. Mas o que se propõe aqui não é acabar com esse método, mas sim sensibilizar para práticas mais ecológicas. Ou seja, nem era preciso atingirmos a qual quota de 68%! Acho que falo por todos quando digo que uns 35% já seriam suficientes para fazer a diferença no dia a dia de milhares de pessoas em Portugal!

E antes que perguntem eu elucido-vos: sim, já existem no mercado bicicletas com espaço suficiente para transportar mercadorias. E como grande parte das soluções no mercado são eléctricas (mesmo que parcialmente) isso tornaria a função do condutor menos exigente a nível físico.

Que eu tenha conhecimento ainda nenhuma grande cidade mundial tentou colocar em prática esta solução. Mas não seria tão melhor termos bicicletas em vez de carros/camiões pelas ruas lisboetas? Quero acreditar que não sou o único a preferir esta hipótese e que, um dia, ainda verei Lisboa com mais ciclistas que automobilistas!

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