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Devemos levar uma criança a um funeral ou velório?

Certamente já colocou esta pergunta. E teve maior ou menor dificuldade em encontrar a resposta. O psicólogo Tiago Sá Balão dá-lhe a resposta, a pensar na criança (no presente) e no adulto (no futuro).

É uma questão que obrigatoriamente se coloca, perante a perda de um familiar. O que fazer com os nossos filhos? Devemos protegê-los de um ambiente de sofrimento, onde os próprios pais expressam a sua dor (que incomoda os filhos), ou devemos lidar com a morte sem tabus?

“A morte não deve ser um tabu. É o término da viagem da vida. Somos seres em contínua transformação, cujo processo (natural) finda na morte (ou, esta última, segundo algumas crenças, é mais uma etapa que se passa). Estamos enganados se pensamos que protegemos as crianças ao não falarmos da morte e ao escondermos ou proibirmos as emoções, pensamentos e sentimentos associados”, começa por defender Tiago Sá Balão.

Nesse sentido, um “abusivo afloramento da dura realidade” pode levar ao “recalcamento das experiências psicológicas”.

Contornar ou disfarçar o sofrimento nestas situações é um mau exemplo para as crianças.

“Lembro-me bem, em contexto de consulta, de uma senhora, com aproximadamente 40 anos, revoltada com a sua mãe porque, em pequena, não viu uma lágrima da mãe após a perda do seu pai (isto é, o marido da mãe), e depois, seguidamente à morte de uma pessoa menos próxima, viu-a a derramar lágrimas atrás de lágrimas. Não compreendeu e não aceitou este comportamento explosivo da mãe, por comparação com o seu comportamento nos momentos que sucederam a morte do seu pai, em que não verteu uma lágrima (à frente da filha) e que evitou falar sobre o assunto”, recorda Tiago Sá Balão.

O psicólogo dá, com esta história, um exemplo de que as omissões a uma criança – a mãe que evita chorar em frente à filha, mesmo no funeral do pai – podem gerar mal-entendidos que se prolongam pela vida, ou até ao momento em que o assunto possa ser esclarecido.

“É na confrontação com as situações da vida, tal como a morte, que crescemos enquanto pessoas e que nos munimos de ferramentas que nos capacitarão fortemente para os desafios futuros, onde novas perdas poderão surgir. A mensagem que se vai passar à criança terá mais ‘sucesso’ se os relacionamentos interpessoais forem, desde cedo, uma base de apoio emocional, um reino de confiança”, resume.

“Enquanto pais, estamos a ser os melhores exemplos para as crianças, pelo que convém não escondermos o sofrimento, quer pela verbalização, quer pela manifestação sem palavras”, realça.

E estes “são os passos necessários, a ser interiorizados, para compreender a questão: devemos levar uma criança a um velório ou a um funeral?

“Sim, se ela tiver essa vontade. Não, se ela não tiver essa vontade. Os rituais posteriores à morte variam de cultura para cultura, pelo que deve haver o cuidado de explicar o que se vai passar no momento do velório e respeitar a sua decisão, mesmo que durante a cerimónia haja uma mudança de ideias (que deve ser respeitada)”, assinala Tiago Sá Balão.

Virar uma página de uma história sem permitir que a criança tenha acesso a essa informação pode levar à falta de compreensão. É assim num livro, é assim na vida real.

“Permita que haja uma despedida à maneira da criança, sempre no calor das pessoas mais aptas para lhe dar o colo que pode desejar, para vivenciar o processo de luto mais equilibradamente”, aconselha o psicólogo Tiago Sá Balão.

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