Cultura

Carta ao ministro da Cultura: “Meta o voto de pesar onde melhor lhe aprouver”

Um amigo do falecido Fernando Relvas mandou o ministro da Cultura, Luís Castro Mendes, meter o voto de pesar pela morte do autor “onde melhor lhe aprouver”. Em causa está uma eventual violação da lei num caso do subsídio de mérito cultural.

Viriato Teles lembra que Fernando Relvas, que o ministro descreveu como “um dos mais criativos autores contemporâneos de banda desenhada” e “uma referência enquanto artista visual”, morreu na miséria sem nunca ter recebido um apoio a que se candidatara e cujos critérios cumpria.

“Queira pois V.ª Ex.ª meter o voto de pesar onde melhor lhe aprouver. Ao Relvas não serve nem para papel de rascunho”, escreveu Viriato Teles, na carta aberta endereçada ao ministro da Cultura.

O jornalista e autor, “amigo de Fernando Relvas de quase 40 anos”, fez questão de explanar toda a situação, acompanhada de uma imagem da “Nota de Pesar” emitida pelo Ministério da Cultura.

“Por circunstâncias diversas, Relvas entrou na fase final da vida mais pobre do que sempre viveu, numa situação de extrema carência económica agravada pela doença de Parkinson que entretanto lhe foi diagnosticada. Em 2015, (…) no limiar do desespero económico, venceu o seu natural orgulho de artista e homem livre e candidatou-se ao subsídio de mérito atribuído pelo Fundo de Fomento Cultural”, começou por lembrar Viriato Teles.

De seguida, cita o decreto desse subsídio: “Possibilitar a atribuição a alguns artistas e autores de reconhecido mérito cultural de subsídios que os ajudem a ultrapassar situações de, por vezes, pungente carência económica”.

De acordo com Luís Castro Mendes, Fernando Relvas cumpria esses requisitos, pois foi descrito na nota de pesar como “uma referência enquanto artista visual” que se destacava “pela inquietude e pela originalidade ao longo de mais de quatro décadas de percurso artístico”.

“E assim o tempo foi passando, sem que nunca o Relvas tenha tido, sequer, uma resposta”, lembrou o amigo: “Numa das últimas vezes que falámos, o Relvas, com o sentido de humor ácido que nunca perdeu, dizia-me: ‘Devem estar à espera que eu morra’. Tinha razão”.

“Há mais de um ano, em outubro de 2016, perante o agravamento da situação (física e económica) do Relvas, (…)  alguns amigos (…)  tentaram sensibilizar os serviços” do Ministério da Cultura”para a urgência da situação. (…) O certo é que entretanto outro ano se passou, e nada aconteceu. Nos últimos meses, a situação física do Relvas piorou. Os mesmos amigos procuraram uma vez mais sensibilizar os serviços do Ministério, mas, mais uma vez, nada aconteceu”, insistiu Viriato Teles: “Assim foi, até que o Relvas morreu. E esta foi a única altura em que os serviços que V.ª Ex.ª superiormente dirige funcionaram com celeridade, na modalidade do supra-citado voto de pesar”.

“É bonito, as palavras são simpáticas, mas chega tarde e não serve para nada”, concluiu o autor da carta aberta ao ministro: “Queira pois V.ª Ex.ª meter o voto de pesar onde melhor lhe aprouver.
Ao Relvas não serve nem para papel de rascunho”.

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