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Julgamento do enfermeiro de Auschwitz, agora com 95 anos e demente, vai mesmo avançar

auschwitz birkenauTem 95 anos e sofre de demência, mas vai a tribunal. Hubert Zafke foi enfermeiro em Auschwitz durante um mês, tempo suficiente para 14 comboios trazerem prisioneiros para o campo da morte, durante a ocupação nazi da Polónia. Está acusado de cumplicidade em 3681 mortes.

O regime nazi e os campos da morte, como o infame complexo de Auschwitz-Birkenau, na Polónia ocupada, continuam a ser chamados à justiça, sete décadas após o Holocausto.

A 29 de fevereiro (este ano é bissexto), a Alemanha vai levar a julgamento Hubert Zafke, atualmente com 95 anos e que sofre de demência.

Em 1944, Hubert Zafke era um jovem enfermeiro e, entre 15 de agosto e 14 de setembro, esteve colocado no campo de concentração de Auschwitz, onde o regime nazi terá gaseado mais de 1,1 milhões de pessoas.

De acordo com um comunicado hoje emitido pela justiça alemã, o arguido vai responder por cumplicidade em 3681 mortes.

Durante o mês em que Hubert Zafke exerceu funções, chegaram a Auschwitz 14 comboios de gado lotados com prisioneiros.

Entre essa ‘carga’ estava uma adolescente de 14 anos, Anne Frank, que se viria a tornar famosa pelas referências ao Holocausto que deixou no diário.

Anne Frank, os pais (Otto e Edith) e uma irmã (Margot) resistiram ao processo de seleção (quem chumbava ia logo para as câmaras de gás), mas só Otto viveu para assistir à libertação de Auschwitz, em janeiro de 1945: Edith tinha morrido poucos dias antes e Anne e a irmã foram transferidas para Bergen-Belsen em outubro de 1944.

Já passaram sete décadas, mas o regime nazi continua a enfrentar a justiça. Hubert Zafke tinha escapado ao julgamento em junho do ano passado, quando um tribunal alemão entendeu que não tinha saúde suficiente para ser julgado.

Mas o antigo enfermeiro, hoje com 95 anos e a sofrer de demência, vai mesmo a julgamento.

Em dezembro do ano passado, um tribunal de recurso de Neubrandenburg anulou a decisão de recusa e mandou avançar o processo, tendo hoje sido anunciado que a primeira sessão foi agendada para dia 29 de fevereiro.

O Ministério Público alemão acusa Hubert Zafke de ter “consciência do objetivo do campo de Birkenau como campo de extermínio”, pelo que, ao desempenhar funções (de enfermeiro) em Auschwitz-Birkenau, foi cúmplice no “assassínio cruel e insidioso de pelo menos 3681” pessoas.

“Com essa consciência, o acusado apoiou a organização do campo e, como tal, esteve envolvido e contribuiu para o extermínio”, argumentaram os procuradores.

Dada a “débil condição física” do arguido e os “défices cognitivos” que apresenta, o julgamento vai ser realizado com intervalos regulares durante as audiências e com a presença de uma equipa médica para prestar eventuais cuidados a Hubert Zafke.

Será o segundo julgamento do antigo enfermeiro, que em 1948 tinha sido condenado, pela Polónia, a três anos de prisão.

Cumprida a pena, Hubert Zafke regressou a Neubrandenburg, onde agora volta a enfrentar a justiça.

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