Nas Notícias

As imagens nunca vistas do fogo de Pedrógão

As marcas do incêndio de Pedrógão Grande ainda estão marcadas na paisagem portuguesa e na memória lusitana. Entre relatórios e investigações, declarações políticas, lágrimas e gritos de desespero, já se viu, ouviu e comentou tudo, ou quase tudo. Até agora ainda não se tinha ouvido o comandante dos Bombeiros de Pedrógão Grande que quebra, finalmente, o silêncio e fala sobre a tragédia. São também agora conhecidas imagens de câmaras instaladas nos Bombeiros de Pedrógão Grande e que filmaram o incêndio de 17 de junho. Veja o vídeo.

“Fui à central, olhei para as câmaras e lógico que parecia um incêndio normal”, salientou Augusto Arnaut, comandante dos Bombeiros de Pedrógão Grande, confessando que, na altura, não imaginou que o fogo pudesse ter as proporções trágicas que acabou por ter.

“Não, não. Nem ninguém que estava no terreno”, afirmou à TVI.

Já Daniel Saúde, testemunha que deu o alerta do fogo em Escalos, explica quando o fez.

“Liguei para o 112 às 14:38. Inicialmente, vi uma pequena coluna de fumo. Ainda não se via fogo”, disse Daniel Saúde.

Alguns minutos depois o fogo estava assim:

Os bombeiros de Pedrógão Grande foram acompanhando a situação, desde logo, em tempo real na central de comunicações através de imagens captadas por um sistema criado pelos alunos da Escola Tecnológica e Profissional da Zona do Pinhal, em Pedrógão Grande.

Veja o vídeo

Xavier Viegas, do Centro de Estudos sobre Incêndios Florestais da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra, coordenou o relatório sobre este fogo, que foi entregue ao Governo, e considera que “cerca das 15:00, 15:10 havia poucos recursos no terreno”.

Na fita do tempo, desde o começo que as equipas de bombeiros pediram mais meios para o local.

“Incêndio a arder com muita intensidade, necessita-se de mais meios para o local”, ouve-se num registo rádio dos bombeiros partilhado na reportagem da TVI.

Um outro apelo é feito com maior firmeza, às 15:10.

“Incêndio com muita intensidade. Necessito de mais uma brigada.”

O comandante dos Bombeiros de Pedrógão Grande diz que no começo da tarde “quem estava a comandar os meios aéreos fartou-se de chamar e não obteve resposta nenhuma”.

“Alguns recursos foram desviados e outros nem chegaram lá”, relata Xavier Viegas, confessando que, de acordo com o estudo por si coordenado, as “comunicações eram muito más”.

A tese da Polícia Judiciária, recorde-se, aponta como tendo estado na origem do incêndio dos Escalos uma “trovoada seca”.

A Escola tecnológica de Pedrógão Grande revela que as câmaras captaram “aquilo que parece um raio” às 19:26, numa altura em que o incêndio já estava com grandes proporções.

Para Xavier Viegas, “uma câmara que está virada para norte mostra a origem do incêndio e [mostram a dimensão] absolutamente. Sim, sim, sim.”

Professor e investigador, Xavier Viegas diz que para a investigação as câmaras e as imagens por elas reveladas “foram de um valor incalculável”.

“Não sei o que faríamos se não fossem aquelas imagens. Temos dois incêndios que estão próximos, quase paralelos um ao outro, que se encontram e geram entre eles correntes muito fortes e deram origem a tornados. Podemos ver árvores de grande porte partidas. Isso requer a existência de ventos de, pelo menos, 200 quilómetros por hora.”

Daí que, Xavier Viegas diga que a tese da PJ seja “colocada quase de parte”.

“Tudo nos aponta para que a origem do incêndio tenha estado ligada à linha elétrica”, disse Xavier Viegas, que aponta o dedo à EDP de “pelo menos negligência” por causa de “falta de manutenção das linhas”.

“A EDP distribuição gasta todos os anos cerca de cinco milhões de euros na limpeza das linhas. Não aceitamos esta acusação”, disse João Torres, presidente da EDP Distribuição.

Já Daniel Saúde, testemunha que deu o alerta do fogo em Escalos, garante que “nessa altura [quando começou o fogo] não havia trovoada nenhuma. Houve mas foi muito mais tarde”.

Esta ideia é partilhada pelo comandante dos Bombeiros de Pedrógão Grande.

“Na zona dos Escalos, enquanto lá estive, não houve trovoada. Ouvia-se, sim, para a zona de Castelo Branco. Na zona dos Escalos não houve qualquer trovoada.”

Xavier Viegas questionado sobre a possibilidade de, em alguns pontos do incêndio, existir indícios de fogo posto, admite que “sim”.

“Quatro pontos de incêndio quase ao mesmo tempo. Coincidência? Lógico que não”, disse o comandante dos Bombeiros de Pedrógão Grande.

Xavier Viegas é claro no resumo que faz da situação dos fogos em Portugal.

“Tenho muita dificuldade em perceber que este problema esteja tão politizado, partidarizado como se encontra, que vá ao ponto das pessoas serem nomeadas pela cor partidária e que as grandes linhas mudem de cada vez que há uma mudança política. Não pode ser. Não me revejo em muitas das medidas que estão propostas agora pelo Governo.”

E vai mais longe.

“Continua-se a esquecer, que é o mais importante em todo este processo, que são as pessoas. O país e eu como pessoa posso tolerar que possa arder 100 ou 200 ou até 300 mil hectares mas não posso aceitar que se perca uma vida.”

No fogo de Pedrógão Grande morreram 65 pessoas, muitas outras ficaram feridas.

Em destaque

Subir