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Aeroporto de Montijo – Navegar à vista!

Autor: André Tavares Moreira

Recordo-me de ainda em adolescente, um célebre e bem-sucedido empresário português dizer que em Portugal se “navegava à vista”. Por conseguinte, pagávamos caro os erros e as oportunidades falhadas de não traçar planos a médio/longo-prazo. Pois bem, a questão do aeroporto do Montijo é mais um triste exemplo.

Felizmente, a onda de turismo que invadiu Portugal nos últimos três anos e que tem dado um enorme alento ao crescimento económico parece estar para durar. Somos, em virtude do nosso excesso de humildade, muito maus a vender os nossos excelentes produtos. Quantos países da nossa dimensão têm tanta riqueza e qualidade gastronómica? Quantos países conseguem proporcionar praia e campo a menos de uma hora de carro, graças a uma excelente rede viária? Quantos países conseguem oferecer a nossa simpatia de bem receber? E mais,

Quantos países conseguem com todas estas características serem baratos e seguros, simultaneamente? Poucos, e a prova disso é o nosso crescimento turístico.

Ora, tendo em conta a nossa situação geográfica não podemos falar de turismo sem transporte aéreo.

Assim, o Turismo português para continuar a crescer precisa de mais companhias a voar para cá, mais rotas, e consequentemente, maior capacidade instalada dos nossos aeroportos. E aqui, voltamos ao tema desta crónica. Montijo, uma péssima ideia.

A adaptação do Montijo é um exemplo de uma má decisão, por ausência de visão de longo prazo. Mesmo com a construção do Montijo e com perspetivas de crescimento moderadas, os aeroportos de Lisboa atingirão a lotação em menos de uma década do início do funcionamento do Montijo. Qual a solução? Partir de imediato para a construção do novo aeroporto de Lisboa.

Se se pode construir o novo Hospital de Lisboa Oriental através de uma PPP, não há qualquer justificação plausível para que não seja feito o mesmo com o novo aeroporto. Acautelando as perspetivas de crescimento, o Estado deveria iniciar as expropriações de todos os terrenos necessários, e, começar a edificar, por fases, o novo aeroporto. Com a localização de que dispõe, e se for permitida construção nos atuais terrenos da Portela, a venda desses mesmos terrenos, daria para pagar parte da construção do novo aeroporto. Mas não,

Entretanto, vamos gastar, pelo menos, 372 Milhões de Euros(1), fora o que custará outras adaptações para a construção do novo aeroporto do Montijo. Tudo isto para daqui a uns anos se passar para a inevitável construção do novo aeroporto de Lisboa, aí com as expropriações bem mais caras por conta da retoma da nossa economia e da valorização do nosso mercado imobiliário.

E onde fica a TAP? A TAP é problema da TAP. A partir do dia em que passou a ser privatizada, e que adotou uma postura e uma linha de total secundarização do aeroporto do Porto, ajudando a lotar ainda mais o aeroporto de Lisboa.

O Porto, e consequentemente o seu aeroporto, devem proporcionar o mais depressa possível que outras companhias de bandeira venham para o Porto fazer os voos que a TAP não quer fazer, mas que os passageiros querem fazer, como se comprova pelas taxas de ocupação da ponte aérea e da ligação da Ryanair.

É também verdade que parte do problema da lotação do aeroporto de Lisboa poderia ser resolvido com a TAP a realizar mais voos diretos do Porto para outros destinos, desconcentrando a operação internacional da TAP, da Portela. (2)

Mas a TAP, não é dos Portugueses, a TAP é dos accionistas e a parte pública da empresa não tem qualquer expressividade (a reversão de parte da privatização foi apenas para garantir o apoio do PCP ao Governo). Pelo que pensar na TAP como parceiro na solução, é irrealista.

Portanto, ao invés de se construir um aeroporto pequeno, para depois ter de se construir um novo grande, planeie-se a longo prazo a construção de um aeroporto que vai ao encontro das necessidades.

PS: Não me referi no artigo ao aeroporto do Porto por acreditar que o mesmo foi bem desenhado, a ponto de permitir o seu crescimento, caso a procura aumente.

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