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A morte de Knut, o urso de Berlim, foi provocada por uma doença humana

Está finalmente explicado o mistério da morte de Knut, o urso abandonado pela mãe que morreu no lago artificial, em convulsões e perante o desespero dos visitantes do zoo de Berlim. Uma investigação científica comprovou que Knut morreu devido a uma doença… humana.

Em 2006, o mundo comoveu-se com a história de Knut, o urso polar que nasceu no zoo de Berlim, na Alemanha, e foi abandonado pela mãe. Em março de 2011, quando tinha 4 anos, voltou a ser notícia por morrer ‘em direto’.

O urso que o mundo viu crescer nos braços de Thomas Dörflein, o tratador que chegou a dormir no recinto dos ursos para dar o biberão ao pequeno sobrevivente (a mãe, Tosca, deu à luz duas crias, mas o gémeo de Knut também foi abandonado e morreu quatro dias após o parto), estava no lago artificial quando entrou em convulsão e se afogou, perante o desespero e a impotência das muitas dezenas de pessoas que visitavam o recinto.

Só ontem, através de um artigo publicado na revista Nature Scientific Reports, é que a mediática morte de Knut foi explicada: o urso terá sido o primeiro animal a morrer devido a uma doença auto-imune do cérebro que afeta os humanos e que só há pouco tempo é que foi caracterizada: uma encefalite anti-receptor NMDA.

“Até agora, só se conheciam doenças autoimunes em humanos”, explicou o principal autor do artigo, Harald Prüss, em comunicado: “Nesta doença, o sistema imunitário do corpo reage e produz anticorpos que vão danificar as células nervosas, em vez de lutarem contra os agentes patogénicos”.

“Ataques epilépticos, alucinações e demência estão entre os possíveis sintomas”, continuou o cientista, que se dedicou a investigar a morte de Knut quando, ao tomar conhecimento da necrópsia (a autópsia em animais), estranhou a conclusão oficial de “encefalite de etiologia desconhecida”.

O grupo de investigadores liderado por Prüss recorreu a critérios de diagnósticos aplicados em pacientes humanos para descobrir que o urso morreu devido a uma doença humana, a qual, para complicar ainda mais as coisas, não é infecciosa…

“Nos últimos anos, o número de casos não resolvidos decresceu consideravelmente. Desde 2010 que temos vindo a identificar a encefalite anti-receptor NMDA na maior parte dos doentes com encefalite de etiologia desconhecida, quando não existe uma causa infecciosa”, acrescentaram os cientistas.

A análise ao líquido cefalorraquidiano de Knut permitiu descobrir altas concentrações de anticorpos que se ligam especificamente no receptor NMDA, encontrado em células nervosas. Os testes com ratos comprovaram que os anticorpos se ligam a partes dos cérebros quase tal como acontece com os humanos no caso da encefalite anti-NMDA.

“Ficámos muito intrigados com os resultados. A encefalite anti-receptor NMDA foi descrita em humanos muito recentemente. É claro que a doença também é importante para outros mamíferos. Estamos aliviados por finalmente ter desvendado o mistério da doença do Knut, sobretudo porque a descoberta pode ter aplicações práticas”, complementou Alex Greenwood, outro dos autores do artigo.

Está assim explicada a morte de uma ‘pop star’ animal, que chegou a ser capa da conhecida revista Vanity Fair, no mesmo ano (2006) em que os tratadores assumiram o papel de Tosca, a mãe que abandonou os dois filhos.

Quanto a Thomas Dörflein, tornou-se num símbolo de amor paternal até que morreu dois anos depois de ter ‘adotado’ Knut, vítima de um ataque cardíaco. Ainda em vida, recebeu a Medalha de Mérito da cidade de Berlim.

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