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21 de dezembro, morre Bocage, poeta de uma vida de aventuras

“Já Bocage não sou”. A 21 de dezembro, o poeta apaixonado e sofredor, mais devoto do furor do que da ternura, morre no Bairro Alto, vítima de um aneurisma. À cova escura, seu estro foi parar desfeito em vento, mas as memórias de Bocage perduram.

“Magro, de olhos azuis, carão moreno; Bem servido de pés, meão na altura; Triste de facha, o mesmo de figura, Nariz alto no meio, e não pequeno; Incapaz de assistir num só terreno; Mais propenso ao furor do que à ternura; Bebendo em níveas mãos, por taça escura, De zelos infernais letal veneno; Devoto incensador de mil deidades (Digo, de moças mil) num só momento; E somente no altar amando os frades, Eis Bocage, em quem luz algum talento; Saíram dele mesmo estas verdades; Num dia em que se achou mais pachorrento”.

Nada melhor do que um soneto de Bocaje, em autorretrato, para resumir o talento do poeta e as caraterísticas do homem, nascido em Setúbal, a 15 de setembro de 1765, homenageado hoje, no dia em que se assinala a sua morte.

É filho de um poeta e sobrinho da célebre poetisa francesa, Anne-Marie Le Page du Bocage. Teve uma infância infeliz, sobretudo em resultado da detenção do seu pai (durante seis anos, e da morte da sua mãe) poucos anos depois.

Sofreu de amores na sua juventude, por uma paixão não correspondida, e fez carreira na Marinha.

No entanto, Bocage desertou, numa altura em que a sua fama de poeta já corria por Lisboa. Viajou pelas Índias, onde retomou a formação de oficial da Marinha, mas voltou a desertar, para Macau.

Foi preso pela Inquisição e na cadeia traduz obras de poetas franceses e latinos. A década seguinte é a da sua maior produção literária e também o período de maior boémia e vida de aventuras.

Esteve novamente preso, em Lisboa, e sai em liberdade a 31 de dezembro de 1798. A partir de 1801, viveu em casa arrendada no Bairro Alto. Morre aos 40 anos, vítima de um aneurisma, a 21 de dezembro de 1905. Antes, escreve as palavras de uma despedida amarga, cujo excerto se recorda:

“Já Bocage não sou!…; À cova escura; Meu estro vai parar desfeito em vento…; Eu aos céus ultrajei! O meu tormento; Leve me torne sempre a terra dura” (…).

Nasceram a 21 de dezembro Josef Estaline, ditador soviético (1879), Hermann Joseph Muller, geneticista norte-americano (1890), Jane Fonda, atriz norte-americana (1937), Frank Zappa, músico norte-americano (1940), Hu Jintao, presidente da China (1942), Paco de Lucía, guitarrista e compositor de flamenco espanhol (1947), Samuel L. Jackson, ator norte-americano (1948), e Joaquim Leitão, realizador português (1956).

Morreram neste dia Giovanni Boccaccio, escritor e humanista italiano (1375), Bocage, poeta português (1805), Klara Hitler, mãe de Adolf Hitler (1907), Frank Billings Kellogg, norte-americano Nobel da Paz (1937), F. Scott Fitzgerald, escritor norte-americano (1940), Tomás Vargas Osorio, poeta e jornalista colombiano (1941), Albert King, guitarrista e cantor norte-americano (1992), Giò Pomodoro, escultor italiano (2002), e José Hierro, poeta espanhol (2002).

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